O vídeo acima não poderia ser mais representativo: durante uma expedição que busca entender o processo de extinção de algumas espécies, o biólogo e cinegrafista Luiz Fernando Mendes registrou os últimos suspiros de dezenas de peixes que, em anos anteriores, teriam abundância de água no local.
Flagrantes como esse eram inesperados pelo sul-mato-grossense, que há tempos acompanha o Pantanal em seus trabalhos e já estava familiarizado com a região da Serra do Amolar, situada entre os municípios de Corumbá e Cáceres (MT).
Visitando o local após três anos, em razão das gravações de um documentário alemão, Mendes se assustou com o visual tão diferente que pôde observar durante a semana do dia 24 de setembro. À época, o cenário ainda era de destruição e morte por conta dos muitos incêndios.
"Dos pantanais que conheço, [o da Serra do Amolar] era o mais bonito em questão de paisagens, o que mais tinha água e refletia. Eu fiquei apaixonado. Voltar agora e ver estas condições é muito triste", descreve.
A imagem do cardume foi feita na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Eliezer Batista, que mesmo durante os períodos de seca não chegava a ter um clima tão árido. Para o biólogo, o impacto ao ver os animais foi intensificado pelo “som e o cheiro” – “cheiro de morte, barulho dos peixes se batendo".
Especialistas ainda não sabem dizer quando e se o Pantanal voltará aos níveis considerados normais de outros tempos ou, principalmente, se a fauna e a flora do bioma conseguirão se recuperar da perda massiva de biodiversidade.
Estimativas apontam para a morte de mais de 10 milhões de animais durante as queimadas, que atingiram com intensidade ainda maior o município de Corumbá e são reflexo das alterações climáticas por todo o mundo.
"É importante mostrarmos para o pessoal que estas mudanças estão acontecendo. O choque é bem importante, porque corremos o risco de perder esta beleza. Temos que mudar os nossos hábitos para termos o Pantanal por mais tempo", alertou Mendes.
Especificamente sobre os peixes da região, Luiz Fernando estima que 95% deles tenham sido extintos, uma vez que os ovos costumam ser colocados durante os períodos de chuva e já não tem mais como eclodir e se desenvolver neste clima desértico.
Todas essas informações ainda estão sendo processadas pelo cinegrafista, que reviveu os sentimentos do mês passado quando analisou os frutos da expedição em sua casa, junto da família. “As nossas ações estão acabando com o bem que a gente tem. Isso é o registro no Pantanal, mas é reflexo do que está acontecendo na Amazônia, no Cerrado e em todos os biomas. É triste saber que talvez a minha filha não tenha o mesmo privilégio que eu tive”, lamenta.
(Com informações do G1 MS - www.opantaneiro.com.br)