24/02/2022 às 13h27min - Atualizada em 24/02/2022 às 13h27min

Rússia ataca Ucrânia; professor ucraniano que já morou em MS fala sobre conflito

Ao discursar, presidente russo fez ameaças e disse que quem tentar interferir sofrerá consequências nunca vistas

Tanques entram na cidade de Mariupol, na Ucrânia, após Putin ordenar uma invasão do país (Foto: Reuters/Carlos Barria)

A Rússia iniciou os ataques com mísseis à Ucrânia nesta quinta-feira (24). O governo russo garantiu que os alvos são apenas bases aéreas ucranianas e outras áreas militares, não zonas povoadas. Já o governo ucraniano afirmou que a Rússia lançou operação em larga escala.

Ao discursar, o presidente russo, Vladimir Putin, fez ameaças e disse que quem tentar interferir sofrerá consequências nunca vistas.
O Ocidente condenou imediatamente a decisão. A ONU (Organização das Nações Unidas) pediu para o presidente russo recuar. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que a Rússia escolheu uma guerra de perdas catastróficas.

“Não é fácil para mim. Muitos sentimentos”. É com essa frase que Oleg Kukhtinov, 31 anos, professor de idiomas, tradutor e intérprete simultâneo, que já morou em Mato Grosso do Sul, define para o Primeira Página o conflito entre seu país, Ucrânia, e a Rússia.

A discórdia entre ambos vem gerando ansiedade e medo em muitas pessoas, e até mesmo a possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial foi levantada – descartada por especialistas.

Antes de tudo, é preciso entender o que está acontecendo entre as duas nações. A Rússia vinha reforçando seu controle militar em torno da Ucrânia desde o ano passado e acumulando milhares de tropas, equipamentos e artilharia nas entradas do país vizinho. Toda a ação ameaça desestabilizar a Europa e envolve até mesmo os Estados Unidos. 

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russia ucrania conflito ANASTASIA VLASOVA EFE

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Conflito entre Rússia e Ucrânia preocupa o mundo todo. (Foto: Anastasia Vlasova/EFE)

Na segunda-feira (21), o presidente russo Vladimir Putin reconheceu a independência de Donetsk e Luhansk, duas áreas separatistas ucranianas. Porém, antes de assinar o acordo, Putin reafirmou que a situação é complicada no leste da Ucrânia e que o país faz parte da história da Rússia.

Especialistas acreditam que, com a guerra entre os dois países, muitos civis podem morrer e milhões de pessoas podem se tornar refugiadas.

De acordo com Oleg, que mora a 50 quilômetros de Donetsk, muitos ucranianos, assim como ele, estão preocupados com toda a situação. Inclusive, na quarta-feira (23), foi decretado estado de emergência com várias restrições na Ucrânia.

Vladimir Putin

Vladimir Putin

Presidente russo Vladimir Putin. (Foto: Reprodução/Alexei Nikolskyi)

“Faz oito anos que esse conflito existe e não está resolvido. Muitas pessoas perderam suas vidas, suas casas, mudaram de países. Sempre tem umas batalhas na zona de conflito. Onde moro, nos últimos dias, as pessoas ficam realmente muito preocupadas mais do que antes. As pessoas ficam chateadas, tristes”, declara o professor. 

O professor ainda conta que o conflito é assunto em todos os lugares da cidade, principalmente para os idosos, sempre questionando o futuro. Oleg também diz que quase todos no país têm parentes na Rússia. “É uma guerra entre dois irmãos. É muito triste ver isso”, lamenta. 

Oleg na Ucrania

Oleg na Ucrania

Oleg usando boné que ganhou de jogador da seleção brasileira de futebol, na Ucrânia. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Apesar da crise entre as duas nações, Oleg não pensa em sair da Ucrânia por conta da família e dos amigos. “To aqui por causa deles: minha avó, que não anda muito, cuido dela; minha mãe; amigos; conhecidos; idosos; adultos com crianças. Não posso deixar eles. Tenho que ajudar. Não queremos abandonar nossas casas, nossa terra”, explica. 

Ucraniano em terras brasileiras

Oleg conhece seis estados brasileiros. Ele passou por Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Em solo sul-mato-grossense, o professor morou em Campo Grande, onde trabalhou como professor de idiomas entre dezembro de 2014 e abril de 2016.

“Eu gostei de Campo Grande, só que é muito quente, calor. Calor demais”, relembra ele com alegria. Na memória, ele guarda boas recordações. 

“A vida é mais calma, mas lembro que tem muitas ruas, lembro da localização, do centro, aeroporto, bairros. Até hoje lembro de tudo, todos os shoppings, ônibus”, pontua.

Oleg em Bonito

Oleg em Bonito

Oleg durante viagem a Bonito. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

O professor até cita dois locais bastante conhecidos que o marcaram: a avenida Duque de Caxias e Afonso Pena. Além disso, conheceu muita gente interessante. 

“Realmente tenho muitos amigos em CG, nas muitas igrejas, Polícia Federal (eu ajudava para eles com tradução voluntária), militares, jornalistas, uma amiga psicóloga, professores, empresários. Muitas saudades de lá, das pessoas”, declara. 

Apesar das boas recordações, Oleg não deixa de falar do país de origem e todo o terror que andam vivendo. 

Oleg Ucrania

Oleg Ucrania

Ucraniano não quer deixar país de origem. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Gostamos da paz, não gostamos da guerra. Somos diferentes de vocês. Vocês são mais alegres, tem paz. Mas nós, quando brigamos, usamos armas. Essa é nossa diferença. Não somos tão ruins, não somos tão bravos. Essas guerras são o ponto negativo do nosso povo”, afirma. 

O ucraniano até mandou um recado para todos que passaram em seu caminho durante sua estadia em MS. 

“Dar um abraço para todo mundo que me ajudou, hospedou na sua casa, alguém que convidou para almoçar, alguém que corrigiu meu português quando cometia muitos erros, alguém que ajudou com o trabalho e que até hoje escrevem para mim”, relembra. 

Oleg Ucrania

Oleg Ucrania

Ucrânia aos olhos do professor. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Sobretudo, a distância não fez terminar algumas amizades e o professor garante ter só agradecimento dentro de si. 

“Algumas pessoas de Campo Grande já estiveram na minha casa e eu apresentei meu país e outros do leste europeu para eles. Neste momento difícil do meu país e no mundo geral, quero agradecer a Deus e as pessoas todas”, finaliza.


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