03/03/2022 às 15h59min - Atualizada em 03/03/2022 às 15h59min

Jovem indígena ensina língua terena nas redes sociais

Aos 23 anos, Tauan decidiu difundir a sua cultura para o mundo

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Renata Barros e Naiane Mesquita
Tauan decidiu mostrar como é a língua terena na internet (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos 23 anos, Tauan Corrêa Gonçalves decidiu que iria difundir a sua cultura para o mundo. Terena, morador de Aquidauana, cidade distante a 141 km de Campo Grande, o jovem compartilha nas redes sociais frases e curiosidades sobre a cultura indígena na página chamada Vemó’u (Nossa Língua, em terena).

“A aproximação com a cidade não fez a gente perder os nossos costumes, quero mostrar que a gente está presente no mundo atual”, explica Tauan. 

Natural da terra indígena Limão Verde, Tauan viveu até os 11 anos no local até sair para estudar em um internato na região de Miranda, município de MS localizado a 190 km da Capital.  

Lá, ele percebeu que os purutuye (não indígena, em terena) tinham uma visão diferente da realidade vivida por ele.  

“Sempre quando tocam no assunto dos indígenas, os purutuyehiko (purutuye, no plural) falam como se os indígenas vivessem no passado ou fossem algo histórico, que já passou. Por isso, eu tento mostrar o contrário, estamos presentes no mundo atual e carregando a nossa ancestralidade, trazendo com a gente a nossa cultura, a nossa língua, os nossos costumes, o nosso jeito de viver”, ressalta Tauan. 

Um dos posts de Tauan (Foto: Arquivo Pessoal)

Um dos posts de Tauan (Foto: Arquivo Pessoal)

Um dos posts de Tauan (Foto: Arquivo Pessoal)

Outro ponto foi o distanciamento dos próprios terenas com a sua cultura, em especial a língua, mantida por décadas por meio da oralidade. O contato com a população não indígena provocou uma mudança no comportamento que impacta diretamente nessa manutenção dos costumes. “Acarretou em diversas consequências e uma delas foi a questão da língua, da nossa língua materna, do nosso idioma, porque muitas pessoas passaram a falar mais a língua portuguesa, do que a própria língua terena”, afirma. 

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O preconceito também foi decisivo nesse distanciamento da língua. “Eu já conversei com muitos pais que me falaram que optaram por passar primeiro a língua portuguesa, como sendo a língua principal, porque tinham receio de que os filhos sofrerem preconceito nas escolas ou em qualquer meio não indígena”, diz. 

Curiosidade 

Nas redes sociais, o público é diverso. Segundo Tauan tanto indígenas quanto não indígenas seguem o perfil para aprender um pouco mais sobre a língua. “Uma coisa muito interessante é que muitas pessoas mesmo pertencendo à nossa cultura não tinham acesso a esses conhecimentos, porque vem se perdendo ao longo do tempo”. 

Há quem esteja lá para tirar uma dúvida na escrita ou pronúncia. “Muitos dos jovens que seguem a página do Vemó’u têm a curiosidade de aprender mais sobre a nossa cultura e sempre me chamando no direct para tirar suas dúvidas”, comenta Tauan. 

Quando nem Tauan sabe a resposta, o jeito é seguir a tradição e ir em busca dos anciãos, os grandes detentores do conhecimento indígena. “Quando eu não sei, eu sempre procuro o meu avô ou outros anciões de outras comunidades para tirar as dúvidas. Isso é muito bacana, porque eu acabo adquirindo mais conhecimento sobre a nossa cultura por meio de dúvidas que eu nem pensaria em ter”, sorri. 

As dúvidas mantêm a página ativa e auxiliam a passar a cultura de geração em geração. “Hoje em dia eu posto de acordo com as curiosidades que as pessoas têm”, fala Tauan. Atualmente, ele cursa agronomia na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). “Sempre estou em contato com a minha comunidade, mesmo morando na cidade”, conta. 

“Os mais velhos sempre falam que é importante a gente manter a nossa língua e os nossos costumes. A nossa cultura não pode acabar”, acredita. 


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