02/05/2022 às 11h34min - Atualizada em 02/05/2022 às 11h34min

Preço médio do gás de cozinha fica 32% mais caro em um ano no Estado

Botijão com 13 kg consome 9,2% do salário mínimo dos sul-mato-grossenses, maior parcela desde 2007

O preço do Gás Liquefeito do Petróleo (GLP), ou gás de cozinha, aumentou 32,8% em Mato Grosso do Sul em 12 meses. De acordo com levantamento junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio praticado no Estado saltou de R$ 83,97 para R$ 111,51 em pouco menos de um ano.

Só em Campo Grande, a variação foi de 35,30% em 12 meses. Atualmente, na pesquisa mais recente com valores comercializados até a sexta-feira (22), o botijão de 13 quilos, o mais comum para consumo familiar, estava sendo negociado a R$ 106,98, contra um valor de R$ 95,84 em fevereiro deste ano e R$ 82,41 em abril de 2021.

Descolado da média estadual está Coxim. A cidade tem o preço do botijão mais caro do Estado, de acordo com a pesquisa da ANP.

O preço praticado chega em média a R$ 127,78 neste mês. A alta em dois meses é de 10,58%, quando era vendido a R$ 117,50 em fevereiro.

Com relação a esta discrepância, Zenildo Dias do Vale, presidente do Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás Região Centro-Oeste (Sinergás), diz que “o botijão vem de Paulínia. Lá, ele é engarrafado por duas empresas, e, como o frete é muito caro, R$ 4,00 por botijão, o gás não pode voltar para trás. Então ele chega em Campo Grande com um preço, da Capital para frente é outro. Por isso, Coxim, Corumbá e Ponta Porã são os mais caros do Estado”, explica.

Dourados e Três Lagoas também comercializam botijões um pouco mais caro que a Capital. A primeira teve alta de 10,58% em dois meses, chegando ao preço médio de R$ 117,85, a segunda a alta foi de 9,55%, com o botijão comercializado em média a R$ 113,00.

O presidente da Sinergás comenta que neste começo de mês houve redução no preço do gás de cozinha no Brasil, entretanto, o preço repassado ao revendedor não sofreu alteração.

“A redução foi muito pequena, a empresa que mais reduziu o preço foi uma que repassou R$ 3,00. Não teve redução para o consumidor porque no mesmo dia a Petrobras anunciou aumento na gasolina, e, para entregar o gás na sua casa, é preciso de gasolina ou diesel para transportar o botijão”, avalia Dias.

 

ORÇAMENTO  

Essas altas são motivadas pela alta no preço do barril de petróleo no mercado internacional, que só neste ano já subiu mais de 32%, aumento que pesa no orçamento das famílias.

Doutor em economia, Michel Constantino corrobora com a afirmação. “Para as famílias mais numerosas e com menor renda, o impacto é grande, pois a variação do aumento reduz o poder de compra e desequilibra o orçamento doméstico”.

Estudo feito recentemente pela Organização Social do Petróleo (OSP) demonstra que o item tem o maior impacto sobre o salário mínimo em 20 anos.

O preço médio do botijão no Brasil está em R$ 113,48, ou 9,4% do valor do salário mínimo – que atualmente está em R$ 1.212. O patamar só foi maior em março de 2007, quando o botijão custava R$ 33,06 e o salário mínimo era de R$ 350.

Analisando a realidade de Mato Grosso do Sul, a parcela do salário mínimo corroída pelo item é de 9,2%, por causa do preço médio do Estado a R$ 111,51.

Por esse motivo, nos últimos anos, revendedores de gás de cozinha passaram a aceitar pagamento parcelado pelo botijão, em até duas vezes, para estimular as vendas, algo que tem sido difícil, segundo o presidente da Sinergás.

“Temos um levantamento que caiu mais de 30% para Mato Grosso do Sul. Eu vendia cerca de 30 botijões na minha revendedora, atualmente vendo de 12 a 15, nos dias que vendem mais são 20. Até quando fiz promoção consegui vender só três. Tá muito difícil até para o revendedor”, diz Dias.

Para o dirigente, o grande problema são os acionistas das engarrafadoras.

“Na minha opinião, poderia ser mais barato, mas os acionistas dessas empresas querem aumentar ainda mais o lucro, eles não deixam o gás baixar”, finaliza.  

ALTERNATIVA

O economista Eric Gil Dantas do OSP explica que o gás compromete o orçamento da mesma forma que em 2007.

“Nesses 15 anos com a manutenção e a valorização do salário mínimo, o preço do gás de cozinha foi caindo, mas houve uma inversão em 2017 com a alta dos valores do GLP e o aumento real do salário mínimo”, disse em entrevista ao Estadão.

O economista ainda revela que, nos últimos anos, muitas famílias deixaram de consumir o GLP e voltaram a queimar lenha.

“Entre os anos de 2013 e 2016, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética [EPE], a população consumia mais GLP do que lenha. Mas, a partir de 2017, a lenha voltou a ser mais utilizada que o gás de cozinha nas residências do País. E, em 2020, esse consumo já era 7% maior que o de GLP”, afirmou Dantas.

De acordo com Constantino, isso ainda pode significar aumento nos preços da comida pronta. Com o aumento do preço do gás de cozinha, a inflação da refeição pronta tende a subir, pois impacta empresas que utilizam o gás em larga escala.

“Empresas que usam o gás no processo produtivo, o aumento do gás impacta nos custos de produção, aumentando o valor dos produtos finais com efeito em toda cadeia produtiva”, conclui o economista.

9,4% do salário

O preço médio do botijão no Brasil está em R$ 113,48, ou 9,4% do valor do salário mínimo, que hoje está em R$ 1.212. Transportado para a realidade de MS, a parcela corroída pelo item é de 9,2%, por causa do preço médio do Estado a R$ 111,51.

Alto custo fez empresários fecharem as portas  

Conforme já noticiado pelo Correio do Estado, em 2021 mais de 20% das revendedoras fecharam as portas em Mato Grosso do Sul.

O presidente do Sinergás explica que o custo para os empresários está muito alto e as margens reduzidas, por isso mais de 100 empresas fecharam as portas no Estado.

“Em Mato Grosso do Sul, com tantos aumentos de gás, fechamos mais de 20% dos depósitos de gás de cozinha em 2021, foram mais de 100. As revendedoras que não conseguem repassar o aumento acabam fechando”.

“As distribuidoras recebem o aumento e repassam na hora. Hoje, mais de 70% dos revendedores de Mato Grosso do Sul estão trabalhando no vermelho, se eles não repassarem, muitos vão fechar. O custo de operação está muito alto”, explica Dias.

No ano passado, os preços já haviam atingido valores recordes. Em novembro de 2021, o botijão com 13 kg atingiu o preço médio de R$ 100,26 em Mato Grosso do Sul. (Colaborou Súzan Benites)


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