22/09/2022 às 09h47min - Atualizada em 22/09/2022 às 09h47min

Copom mantém juros para “domar” inflação

Selic foi mantida a 13,75%, após 12 altas consecutivas, e aumentou em 11,75 pontos porcentuais, o maior choque da taxa desde 1999

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, encerrando um ciclo de 12 aumentos consecutivos. A taxa básica de juros se manteve em 2% entre agosto de 2020 e março de 2021. Desde então, acumula 11,75 pontos porcentuais de elevação.

Para analistas do mercado financeiro, a tendência pode ser de queda para as próximas reuniões. O mecanismo de alta da taxa de juros foi a estratégia do BC para tentar derrubar a escalada da inflação. Nos últimos dois meses, somada a queda de impostos dos combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, a estratégia impactou em deflação no índice oficial, tanto em Mato Grosso do Sul quanto no território nacional.

“Com a manutenção da Selic, há uma probabilidade de redução no próximo encontro visto que temos preços caindo”, afirma o doutor em economia Michel Constantino.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial de Campo Grande, foi medida a -0,39% em agosto depois de retrair 0,95% em julho. No acumulado do ano, o índice está em 4,24%.

Em agosto, a queda foi de 0,68% na média nacional, atingindo a marca de 4,39% em 2022. O IPCA brasileiro e o de Campo Grande estão em 8,73% no acumulado de 12 meses, abaixo dos dois dígitos.

Constantino ressalta que a alta da taxa básica reduz o dinheiro em circulação e, com efeito na redução de preços temos a redução da inflação.

No entanto, não há uma unanimidade sobre o tema, já que a manutenção do juro básico não foi aprovada por todos os membros do Comitê. Conforme o comunicado divulgado pelo Banco Central, sete dos nove membros do comitê votaram pela manutenção de 13,75%, os outros dois votaram por uma elevação residual de 0,25 ponto porcentual, o que jogaria a Selic para 14%.

“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, informou o Comitê em comunicado.

Projeções divulgadas pelo mercado financeiro apontam que a taxa deve permanecer neste patamar até junho de 2023 – quando recuará para 13,5% ao ano. Para o fim do ano que vem, a projeção é de juros em 11,25%. A taxa continua como a maior desde janeiro de 2017.

CONSUMO

Para o consumidor, a alta dos juros acaba impactando em redução de consumo e taxas de financiamento mais baixas.

“Taxas de juros em alta inibem o consumo, diminuem a confiança do consumidor e ainda inibe os projetos de investimento produtivo, além de elevarem o custo da dívida pública, consumindo importantes recursos públicos”, analisa o coordenador do curso de economia da IBS Américas, Flávio Mesquita Saraiva.

O professor ainda explica que os financiamentos e os contratos já pactuados se mantêm. 

“Novos empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros com a Selic elevada. Um bom exercício é conferir as taxas de empréstimos pessoal pré-autorizadas nos aplicativos dos bancos. Elas costumam sofrer variações e tendem a subir quando a Selic sobe”, indica Saraiva.

Apesar de a alta da Selic já estar consolidada, os analistas ainda aconselham que os investidores tenham cautela na hora de aportar dinheiro com tanta turbulência no mercado.

Constantino frisa que é importante ter uma carteira diversificada. “Sempre vale a pena diversificar investimentos, mas, com Selic alta, o porcentual de diversificação fica maior em renda fixa”.

Eliseu Nantes, da Safra Investimentos, comenta que por ser fim de um ciclo de alta, o efeito nas aplicações de curto e médio prazo já estão muito menores. “Lá em meados de fevereiro e março, a realidade seria outra. Como o mercado financeiro já vai antecipando coisas que acontecerão no futuro, ele já está se comportando a uma série de indicadores que começaram a tentar buscar a normalidade”.

CENÁRIO INTERNACIONAL

O Brasil encerrou o ciclo de aperto monetário, mas os Estados Unidos mantiveram a sequência. O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou as taxas de juros do país para uma faixa de 3% a 3,25% – uma alta de 0,75 ponto porcentual. É a quinta vez neste ano em que os juros são elevados.

A nova alta leva a taxa básica de juros dos EUA ao seu maior patamar desde 2008. O professor de economia Flávio Saraiva diz que os aumentos de juros nos EUA tendem a atrair capitais de curto prazo, mas que o Brasil não deve sofrer. 

“Pode representar saída de dólares em países mais instáveis. Creio que o Brasil está bem respaldado, com reservas internacionais e um sólido resultado de balança comercial”, avalia.

Outro ponto que tem mexido com o cenário mundial é a guerra entre Rússia e Ucrânia. Ontem, Vladimir Putin fez ameaças nucleares ao Ocidente. “O prolongamento do conflito pode criar mais pressões por aumentos de preços e interrupção de fornecimento de fertilizantes”, conclui Saraiva.


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