18/10/2022 às 22h10min - Atualizada em 18/10/2022 às 22h10min

Chico, o som do Pantanal no Grupo Acaba, morre vencido pelo Alzheimer

Um dos criadores do grupo, Chico inseriu pela 1ª vez o vocabulário pantaneiro na música popular brasileira

Ângela Kempfer e Aletheya Alves - CAMPO GRANDE NEWS
Chico com a corda cheia de instrumentos de madeira em entrevista em 2020 ao Lado B. (Foto: Arquivo)
Morreu nesta terça-feira (18), em Campo Grande, Francisco Saturnino de Lacerda Filho, o Chico, criador do Acaba, grupo que soube como nenhum outro tocar a identidade pantaneira. 

Diagnosticado com Alzheimer em 2017, há cerca de uma semana ele estava internado no Hospital da Unimed, aqui na Capital. Os 77 anos, viveu como artista, mas também como publicitário e empresário, criador da agência Arte e Traço. Mas as lembranças começaram a sumir da memória e ficaram apenas as músicas, que nos últimos tempos a doença também apagou.

Desde 2020, passava os dias cantando e escrevendo poesias. Também gostava de artesanato, pintando vasos comprados pela filha. A casa virou uma mistura de escritório, agência e ateliê.

Também não largava o “cordão de ouro”, uma corda com instrumentos de madeira para reproduzir os sons dos pássaros, o barulho das árvores, dos rios e até da madeira que assentavam as casas de palafita na região pantaneira onde nasceu.  "Som está aqui ó... escuta o Pantanal”, dizia o compositor e responsável por percussão e voz.

"O Chico foi o responsável por inserir pela primeira vez o vocabulário pantaneiro na música popular brasileira. Quando ele faz em 1975 a letra de Ciranda Pantaneira, ele funda uma escola nova e que iria resultar na essência do trabalho do Grupo Acaba, os Cantadores do Pantanal", lembra o companheiro de grupo e irmão, Moacir Lacerda.


Segundo ele, "foi o Chico quem usou pela primeira vez palavras como 'camalote', 'carandá', 'capivara', 'Pantanal', 'bugre' no âmbito tanto nacional como regional. Chico colocou uma lupa na cultura pantaneira e, pantaneiro legítimo, nascido em Albuquerque, na beira do Rio Paraguai, foi quem melhor decifrou os costumes, os hábitos, o jeito e o modo de ser do pantaneiro", descreve o irmão. 

Fundado em 1966, por Chico e Moacir, o nome Acaba surgiu da abreviação "Associação dos Compositores Autônomos do Bairro Amambaí" e lá se vão 56 anos de música.  A banda foi crescendo tanto que chegou a ter Adriano Praça de Almeida, Alaor Pereira de Oliveira, Antônio Luiz Porfírio, Carlinhos Batera, Chico Lacerda, Douglas Santos, Jairo Henrique de Almeida, Lara José Charbel Filho, Luiz Sayd, Moacir Lacerda, Vandir Nunes Barreto e Tião Cesar, divididos entre instrumentos e vocais.

Chico viveu 43 anos com Sônia, mas perdeu a esposa para o câncer há 11 anos. Agora, ficam os dois filhos: Carina e Daniel que incentivaram a arte do pai até os últimos dias de lucidez.

Além dos filhos, o artista plástico Carlos Vera acompanhou os últimos momentos ao lado do amigo de décadas. "Só tenho gratidão pela amizade que tive com ele. A gente trabalhou, viveu junto por mais de 35 anos Só tenho gratidão mesmo e espero que ele descanse em paz"

Da vida como hippie ao menino pantaneiro, do sucesso como publicitário às histórias em São Paulo ou Minas Gerais, termina hoje a história de um grande nome da cultura sul-mato-grossense.

Velório e sepultamento serão no Parque das Primaveras, a partir das 14 horas.. 
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