14/02/2023 às 16h02min - Atualizada em 14/02/2023 às 16h02min

Covid aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2, diz estudo

O risco chega a ser quase três vezes maior nos indivíduos que não estavam vacinados no momento de contrair a Covid em relação aos vacinados

Um novo estudo aponta que a Covid é um fator de risco para desenvolver as chamadas doenças metabólicas, incluindo diabetes tipo 2. O risco de ter diabetes após um quadro de infecção pelo Sars-CoV-2 pode ser até 58% maior em comparação àqueles que nunca se infectaram.

 

Além disso, o risco chega a ser quase três vezes maior nos indivíduos que não estavam vacinados no momento de contrair a Covid em relação aos vacinados: 74% dos diagnósticos foram em pacientes não vacinados contra 26% ocorrendo após a vacinação.


O mesmo risco cai pela metade (51%) em pessoas que estavam vacinadas no momento da infecção.

Esses são os principais resultados de uma pesquisa conduzida no Instituto Smidt do Coração do Centro Médico Cedars-Sinai, de Los Angeles (Califórnia), e que foi publicada nesta terça-feira (14) na revista especializada Jama Network Open.


Para avaliar o risco de diagnóstico de diabetes tipo 2 após a Covid, os pesquisadores avaliaram 23.709 adultos que tiveram pelo menos uma infecção pelo coronavírus entre março de 2020 e junho de 2022. Os participantes foram incluídos se tiveram um diagnóstico de diabetes tipo 2, hipertensão e hiperlipidemia (colesterol alto) em algum momento até 90 dias após o quadro confirmado de Covid.

 

Os dados foram ajustados para sexo, idade, condições preexistentes como risco cardiovascular conhecido e o momento da infecção (se foi antes ou durante a onda da ômicron).


Como resultado, a razão de risco (em inglês, odds ratio ou OR) de desenvolver diabetes após contrair a Covid foi 1,58, ou seja, 58% maior em comparação aos indivíduos não infectados. Para hipertensão e colesterol alto, a razão de risco não foi estatisticamente significativa.


Em relação ao estado atual de vacinação, a razão de risco de ter diabetes tipo 2 foi de 1,78 em não vacinados contra 1,07 em pacientes vacinados (com intervalo de confiança de 95%).


A vacinação também diminuiu o risco de desenvolver hipertensão (46% menor) e colesterol alto (45% menor) nos indivíduos vacinados em relação aos não vacinados.


Para Alan Kwan, pesquisador cardiovascular no instituto e primeiro autor do estudo, apesar de trazer algumas evidências sobre o risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes após um quadro de Covid, os dados apresentados no estudo não podem ser considerados como "absolutos".


"Por ser um estudo observacional [quando são observadas as variações em uma determinada população sem que haja um grupo controle], nós hesitamos em dar taxas de razão de risco absolutas justamente porque isso vai ser relativo em relação a cada população. O que esses dados nos mostram é que claramente há um risco aumentado de novos diagnósticos pós-infecção, o que pode ser explorado em estudos futuros", disse em entrevista por email à Folha de S.Paulo.


Como diabetes tipo 2 é um dos principais fatores que podem levar a doenças cardiovasculares no futuro, produzindo também um risco aumentado de desenvolver quadro agravado de Covid e outras doenças infectocontagiosas, o pesquisador lembra que a vacinação pode ajudar a reduzir esse risco, protegendo também do diagnóstico de diabetes.


"O estudo sugere assim que a vacinação contra Covid antes da infecção pode oferecer proteção também contra o risco de desenvolver diabetes tipo 2, embora os mecanismos envolvidos nessa proteção -se, por exemplo, reduzindo a ação do vírus no organismo ou bloqueando as vias de inflamação que podem gerar diabetes- ainda não foram completamente elucidados", afirmou.


No Brasil, segundo dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito Telefônico) de 2021, há 9% da população brasileira adulta convivendo com diabetes, ou pouco mais de 15 milhões de pessoas.


Como a pesquisa foi afetada durante a pandemia pelo corte de verba e pela dificuldade de acesso telefônico aos entrevistados, esse número ainda pode ser subestimado.


Segundo Kwan, esse pode ter sido também um fator que influenciou a própria pesquisa, uma vez que os dados eram coletados a partir de relatórios próprios de diagnóstico de alguma das condições metabólicas pré e pós-exposição ao coronavírus.


"Como durante a pandemia é natural que tenha ocorrido uma menor procura aos serviços médicos não emergenciais, a taxa de novos diagnósticos de diabetes, hipertensão e colesterol alto na população geral não foi avaliada, mas sim a comparação dos pacientes com Covid ou sem infecção prévia e diagnóstico de alguma dessas doenças até 90 dias após a infecção", explicou.


De acordo com ele, novos estudos podem ajudar a entender inclusive quais os mecanismos pelos quais o vírus aumenta a ocorrência de inflamações e quadro de diabetes. "Estamos ainda aprendendo mais e mais sobre os riscos de longo prazo associados à Covid, mas ainda há um longo caminho pela frente", afirmou.


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