20/11/2023 às 10h45min - Atualizada em 20/11/2023 às 10h45min

Mesmo com os juros bancários no menor nível, crédito para o consumidor segue caro

Inadimplência ainda elevada e endividamento das famílias são fatores que têm barrado o aquecimento do setor

EVELYN THAMARIS

A taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas recuou de agosto para setembro, de 43,5% para 43,3% ao ano, informou o Banco Central (BC). É o menor patamar desde dezembro do ano passado (41,8% ao ano).

O porcentual é calculado com base em recursos livres, os quais não incluem os setores habitacional e rural e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O recuo dos juros bancários é reflexo do custo menor dos bancos na captação de recursos, após o BC ter começado 
a reduzir a taxa básica do País, a Selic, em agosto. Atualmente, a taxa Selic está em 12,25% ao ano após três cortes seguidos. Segundo analistas do setor, o consumidor será o último a sentir os efeitos do afrouxo monetário.

O mestre em Economia Lucas Mikael analisa que, mesmo em um cenário de redução significativa da taxa básica, ela não atua como elemento principal dos juros ao consumidor. 


“O principal componente é a inadimplência, a qual, por mais estável que esteja nos últimos meses, encontra-se no maior nível histórico, o que torna muito difícil o acesso a crédito”, frisa.

O economista evidencia também que o consumidor não deve perceber essa mudança tão rapidamente ainda que a queda da Selic represente um marco muito importante para o mercado de crédito, uma vez que muitos são os fatores da “engrenagem econômica” necessários para definir se a queda pode gerar um estímulo ao consumo, já que os níveis de inflação – mesmo que controlados – ainda estão altos.

O doutor em Economia Michel Constantino aponta para um mercado de crédito em recuperação. “A situação começa a melhorar para pessoas e empresas que usam empréstimos e investimentos em seus dias a dias ou em seus negócios”, afirma.

Constantino ainda pontua que a taxa média dos créditos depende do tipo de crédito utilizado e da instituição financeira. “As instituições públicas e cooperativas tendem a ter créditos mais baratos na média”, explica.

É importante destacar que, mesmo com uma taxa básica menor, o crédito deve ser bem planejado, pois ainda está com uma taxa de dois dígitos ao ano.

“A redução da Selic atualmente está causando uma pequena queda nos juros do cartão de crédito e do cheque especial, cobrados do consumidor brasileiro, porém, o efeito maior será a longo prazo, porque existem outros fatores que influenciam no valor final das prestações”, esclarece Mikael.

FUTURO

O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu pela terceira vez seguida a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, saindo de 12,75% para 12,25% ao ano. Para o fim deste ano, os analistas do mercado financeiro acreditam que a taxa chegará a 11,75%, mantendo o ritmo conservador nos cortes.

Por um lado, o posicionamento vai de encontro ao compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária. 

Por outro, está de acordo com o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência.

O documento divulgado deu mais ênfase ao cenário externo, que tem se mostrado mais volátil. Ainda, detalhou que um membro avaliou que a piora do cenário externo introduz um viés assimétrico de alta no balanço de riscos para a inflação. Na prática, um diretor do BC defendeu que a piora internacional deveria pesar mais no cenário central da autoridade monetária já na próxima reunião.

Os demais membros do Copom avaliaram, contudo, que o cenário internacional afeta primordialmente o grau de incerteza relativo ao balanço de riscos. “O Copom é unânime em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela”, acrescentou. 

A ata elencou, ainda, os múltiplos mecanismos de transmissão da economia internacional para a brasileira, que devem ser incorporados na tomada de decisão.

O menor porcentual da Selic registrado na história ocorreu há três anos, em agosto de 2020, chegando a 2% ao ano. 

A partir de março daquele ano, a taxa começou a subir, parando de aumentar em setembro do ano passado, quando chegou a 13,75%, média que se manteve estável no mesmo patamar até agosto deste ano.


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