19/01/2024 às 09h50min - Atualizada em 19/01/2024 às 09h50min

Com 7% das lavouras em condições ruins, chuvas devem definir produtividade da soja

Calendário atual da safra em Mato Grosso do Sul está dividido entre enchimento dos grãos e colheita, aponta Aprosoja-MS

No intervalo de uma semana, a equipe do Correio do Estado encontrou lavouras em estágios diferentes na zona rural de Campo Grande - Marcelo Victor

Na fase final da safra de soja 2023/2024, levantamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) aponta que cerca de 7% das lavouras de MS encontram-se em más condições. Em um cenário ainda incerto, a produtividade da oleaginosa deve ser definida pelo volume de chuvas em janeiro.

O engenheiro agrônomo, doutor em fitotecnia e pesquisador do Centro de Pesquisa e Consultoria Agropecuária Desafio Agro, Danilo Guimarães, relata que municípios como Chapadão do Sul, Costa Rica, Paraíso das Águas, São Gabriel do Oeste e Bandeirantes, bem como parte da região sul, já iniciaram o processo de colheita. 

“Nas áreas já colhidas, o produtor investiu e esperava colher entre 70 e 80 sacas por hectare e está colhendo de 40 a 50 sacas por hectare”, revela.

Guimarães descreve o cenário produtivo da soja no ciclo 2023/2024 como desafiador em Mato Grosso do Sul. “Ocorreram perdas significativas de produção e produtividade nas lavouras. No entanto, pode ser que essa perda seja ainda maior”, avalia.

O pesquisador explica que o panorama complicado ocorre em função das condições climáticas registradas nos últimos meses, tendo em vista ainda que metade da região sul de Mato Grosso do Sul – que inclui Dourados, Maracaju, Sidrolândia e Ponta Porã – continua seca, além de várias lavouras plantadas fora da janela ideal para o desenvolvimento da soja.

Ainda de acordo com o pesquisador, as primeiras lavouras implantadas até o fim de setembro e início de outubro sofreram um pouco mais com a estiagem. E nas demais lavouras houve um atraso na janela de semeadura e agora também no desenvolvimento, na fase de enchimento de grão, com períodos secos agravados pela alta temperatura, o que prejudicou a produtividade dessas lavouras.

“As regiões mais arenosas sofreram mais com a implantação das lavouras em razão de emergências como a necessidade de replantio. Apesar de na região dos chapadões estar relativamente bom o padrão das lavouras, é necessário observar os próximos 20 dias, que serão decisivos para avaliar o potencial dessas áreas. Principalmente é necessário que continue chovendo”, afirma Guimarães.

O engenheiro agrônomo conclui a análise destacando que, para as áreas apresentarem uma boa condição de desenvolvimento, será crucial a presença de chuvas para que a soja termine o seu ciclo de enchimento e o grão possa apresentar um potencial produtivo satisfatório.

PANORAMA 

Dados do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga-MS) apontam que, para a safra de soja 2023/2024, são projetados 13,818 milhões de toneladas, redução de 7,92% no comparativo com o ciclo anterior (2022/2023), quando Mato Grosso do Sul colheu recorde de 15,007 milhões de toneladas.

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG), Staney Barbosa Melo, salienta que, diante dos problemas climáticos ocorridos na safra atual, adaptações foram necessárias. “Estamos vendo um encurtamento da colheita que se segue a um ciclo mais lento de plantio, um problema que se expressa em queda de produtividade, em que as plantas não atingiram seu máximo potencial produtivo”.

O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra que a colheita em MS atingiu 0,5% da área estimada, sobretudo nas regiões centro-sul e norte do Estado, com um ritmo um pouco mais lento do que os anteriores.

Já a Aprosoja-MS detalha que até o dia 13 deste mês, último dia do calendário de plantio em MS, foram replantados 230,8 mil hectares, equivalentes a 5,41% da área total estimada. Entre as regiões produtoras, o maior índice de replantio foi registrado na região central, com pouco mais de 100 mil hectares replantados.

“No período inicial de desenvolvimento das plantas, grande parte das áreas foi prejudicada pela seca, principalmente entre dezembro de 2023 e a primeira semana de janeiro de 2024. Além da falta de chuvas, as altas temperaturas também contribuíram para agravar o cenário”, explica por meio de nota a Aprosoja-MS.
Porém, apesar das condições climáticas adversas, a associação ainda indica que a produção de soja do ciclo 2023/2024 mantém as expectativas iniciais de 54 sacas por hectare. 

“Média alinhada ao potencial produtivo das últimas cinco safras do Estado em 4,2 milhões de hectares, resultando em uma produção estimada de 13,8 milhões de toneladas”, conclui a nota. 

ATRASO

Como já noticiado pelo Correio do Estado em dezembro de 2023, MS chegou a registrar atrasos no calendário de plantio da soja que desencadearam prejuízos, ocasionados pelas irregularidades climáticas registradas no segundo semestre do ano passado em virtude da ação do fenômeno El Niño.

Em função do atraso na semeadura decorrente da falta de chuva durante o início da safra em Mato Grosso do Sul e mais seis estados brasileiros, sendo eles o vizinho Mato Grosso, Goiás, Pará, Piauí, Tocantins e Acre, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou as portarias nº 968, 980 e 986, que alteraram o calendário de semeadura de soja para a safra 2023/2024.

A solicitação que resultou na mudança partiu de representantes do setor produtivo e de agências estaduais, tendo como motivação fatos como o atraso na semeadura e prejuízos decorrentes da ausência de chuva durante o início da safra nesses estados.

Em Mato Grosso do Sul, o novo período foi iniciado em 16 de setembro de 2023 e encerrou-se em 13 de janeiro de 2024. Ao todo, houve um acréscimo de 20 dias nas unidades federativas impactadas pela alteração em relação à data anteriormente estabelecida.


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