03/10/2019 às 08h24min - Atualizada em 03/10/2019 às 08h24min

Milícia articula plano para matar delegado, diz Gaeco

"Desembargadores de merda", disse Jamil Name ao ser preso em operação

DAIANY ALBUQUERQUE
Delegado Fábio Peró (no meio) durante apreensão de armas na casa de guarda municipal envolvido com milícia - Foto: Bruno Henrique/Correio do Estado/ Arquivo

Uma agência de inteligência de Mato Grosso do Sul recebeu a informação de que os empresários e pecuaristas Jamil Name e Jamil Name Filho, presos da Operação Omertà e que estão custodiados no Centro de Triagem 2, estariam articulando um possível atentado contra o delegado titular do Grupo Armado de Repressão a Assaltos e Sequestros (Garras), Fábio Peró.

O fato é citado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em pedido para manter a prisão preventiva dos empresários, que estão desde sexta-feira (27) no presídio.

No documento o MPMS também cita que durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão e prisão dos empresários, Jamil teria dito, em tom ameaçador, que “o jogo só começa agora” e se despediu se sua esposa com um “até amanhã”. “Revelando a certeza de que seria solto em 24h. E fez isso para realçar o seu poder político e econômico aos presentes, com nítido viés intimidatório”, diz o documento.

Jamil Name também teria ofendido os desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS). “Tratando-os como analfabetos e desembargadores de merda, ao ser cientificado da ordem de busca e apreensão em sua casa”, conforme diz o Ministério Público.

Datado de 1º de outubro deste ano (terça-feira) e endereçado a 7ª Vara Criminal de Competência Especial de Campo Grande, o documento é assinado pelos promotores do Gaeco Tiago Di Giulio Freire, Thalys Franklyn de Souza, Cristiane Mourão Leal Santos e Gerson Eduardo de Araujo, e pede que seja anexado aos autos do processo o relatório contendo informações sobre o cumprimento da ordem de busca e apreensão na residência de Jamil pai e filho.

“Tais documentos reforçam a necessidade da manutenção da prisão preventiva de ambos para a garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal”, diz trecho do pedido.

Jamil Name e Jamil Name Filho foram presos no bojo da Operação Omertà feita pelo Gaeco e Garras na sexta-feira. Além deles, quatro policiais civis, quatro guardas municipais, um policial federal, um militar do Exército, um caseiro de propriedade rural e também profissionais do Direito foram presos em Campo Grande e no interior do Estado, em operação que combate milícia armada especializada em crimes de pistolagem.

Os assassinatos de, pelo menos, três pessoas estão relacionados com o grupo de extermínio sob investigação: do policial militar reformado Ilson Martins Figueiredo, ocorrido em 11 de junho do ano passado; do ex-segurança Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018; e do estudante de Direito Matheus Xavier, em abril deste ano.

Os crimes investigados pelos policiais do Garras e do Gaeco são de homicídio e corrupção ativa e passiva. Ao todo foram pedidos 13 mandados de prisão preventiva, 10 de prisão temporária e 21 mandados de busca e apreensão.

Dois integrantes do grupo estão foragidos, o ex-guarda municipal José Moreira Freires e o auxiliar Juanil Miranda Lima – apontados como os executores dos assassinatos investigados pela força-tarefa e foragidos desde abril, quando as investigações começaram a avançar –, além do advogado Alexandre Fransolozo, cujo mandado de prisão temporária (suspenso no domingo pelo Tribunal de Justiça) nem chegou a ser cumprido.

Na segunda-feira, Gaeco e Garras distribuíram cartazes pedindo informações dos foragidos. Até o fim da tarde de ontem, a recompensa oferecida era de pelo menos R$ 2 mil (valor que, segundo eles, poderia aumentar).

Para dar o nome à operação, os policiais utilizaram um termo do dialeto napolitano, do idioma italiano. Omertà, conforme o Gaeco, é um termo que se fundamenta em um forte sentido de família e em um silêncio que impede a cooperação com autoridades policiais ou judiciárias. Trata-se de um código de honra muito usado nas máfias do Sul da Itália.

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Envie Matéria pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp