09/04/2020 às 09h58min - Atualizada em 09/04/2020 às 09h58min

Cientistas criticam Mandetta sobre uso da cloroquina

"O que enfrentamos não tem clemência por temerosos e retardatários", diz crítico

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - Arquivo/Correio do Estado

Cientista, doutor químico e bioquímico, professor Marcos Eberlin, membro da Academia Brasileira de Ciências, em parceria com mais 30 cientistas, fez duras críticas ao ministro da Saúde sul-mato-grossense, Luiz Henrique Mandetta ao publicar documento em defesa do uso da hidroxicloroquina em pacientes não-graves de Covid-19.

O documento foi divulgado no site de apoiadores do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, o brasilsemmedo.com e traz críticas ao ministro em relação ao posicionamento que Mandetta vem tendo frente ao uso da hidroxicloroquina durante a pandemia do novo coronavírus.

Os demais cientistas que assinaram a carta, todos são ligados ao movimento Docentes Pela Liberdade (DPL) e somam mais de 60 mil citações em publicações científicas internacionais.

No início do texto, o cientista Marcos Eberlin começa declarando que Mandetta “desaconselha o uso da (hidroxi)cloroquina ou sua associação com azitromicina (HCQ + AZT) para doentes não-graves, e diz que o ministro justifica a decisão pela “falta de consenso científico”. “Ciência, ciência, ciência, seguimos a ciência!”, proclama o Senhor Ministro, soando, para muitos, como culto e prudente. Porém, ele está equivocado!”, afirmou Eberlin.

O doutor em química e bioquímica alega que, em plena pandemia, não existe tempo hábil para esperar conclusões científicas de um medicamento que vem sendo usado há muitos anos. “Exigir consenso científico e que cientistas em suas sociedades científicas se reúnam e cheguem em uma posição consensual, em meio a uma pandemia, é revelar temor em agir num momento premente como o que vivemos”. O cientista continua criticando Mandetta ao dizer que “pedir consenso é justificar uma omissão”.

Eberlin compara o momento atual com a questão que ocorreu no episódio que o navio Titanic afundou. “É ignorar as evidências que já temos em nome de muitas evidências que até poderão surgir, porém, tarde demais; quem sabe depois da morte de muitos. É se negar a desviar o Titanic, enquanto se espera um consenso sobre se a mancha no radar é mesmo um iceberg à frente”, declarou.

Eberlin continua sua defesa em favor da medicação alegando que se os cientistas sabem, nem que seja um pouco, que esse pouco seja usado aqui e agora. “Com a autoridade científica que meus feitos me outorgam, não tenho dúvidas em declarar que o Senhor Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, equivoca-se tremendamente ao clamar por consenso científico nas atuais circunstâncias”, reforçou.

Em Portugal, onde o número de mortes pelo novo coronavírus subiu para 345, o governo autorizou o uso do medicamento em pacientes. “Os portugueses, caro Ministro Mandetta, foram bravos, corajosos e plenamente científicos. Usaram as evidências empírico-científicas de que dispunham e não hesitaram: agiram, rapidamente, pois era hora. Siga esse protocolo de sucesso!”, recomendou.

O cientista continua com as críticas e diz que as atitudes do ministro são “moralmente inadmissíveis e, por que não, cruel”, reforça.

“Seria um contrassenso imenso insistir em exigir coisas assim numa hora como esta! Pois estudos desta natureza seriam demorados demais (pelo menos 12 meses), e o vírus que enfrentamos não tem clemência por temerosos e retardatários”, disse Eberlin.

O cientista lembra, em sua carta, a situação dos africanos. “Eles a tomam todos os dias, e missionários na África são aconselhados a tomar doses diárias. Muitas vidas na África talvez sejam salvas por essa “feliz coincidência”, afirmou. Na África, 500 pessoas já morreram contaminados pelo Covid-19.

Outro exemplo usado por Eberlin é o caso da operadora de saúde Prevent Senior, localizada em São Paulo. O plano contempla 25% dos idosos da Capital paulista e tem administrado o medicamento de maneira preventiva. O diretor-presidente, o médico Pedro Batista Júnior alegou que mais de 500 pacientes, acima de 60 anos, receberam a hidroxicloroquina associada ao antibiótico azitromicina e mais de 300 pacientes internados já tiveram alta. “Temos essa esperança, os dados são robustos e o tratamento é adequado para a população”, afirmou o diretor da operadora.

Eberlin cita o apoio de um dos maiores especialistas em epidemias no Brasil, "pesquisador sênior e altamente produtivo e respeitado, o Dr. Paolo Zanotto que vem aconselhando fortemente o uso da cloroquina", afirmou.

Na carta, o cientista indaga o ministro sobre o motivo do coordenador da equipe do governador Dória em SP, o Dr. David Uip ter feito uso da medicação. “Por que para ele pode, e para o povo, não pode? Um amigo meu, biólogo e cientista, consultou seu médico, tomou e sarou, em poucos dias”, declarou.

E por fim, Eberlin encoraja Mandetta a mudar de ideia, pede para que o ministro não pratique isenção hedionda e relata que pessoas mais pobres estão morrendo, clamando pela cloroquina, enquanto os ricos estão tendo acesso ao medicamento, por meio de seus médicos particulares. “Não corra o risco de ter sobre vossa consciência o peso da morte de centenas ou milhares de pessoas que poderão morrer sem sequer ter a chance de testar a terapia.  Seja corajoso, seja científico! Autorize o uso da ciência que temos aqui e agora, a ciência de hoje! “, finalizou.


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