Mato Grosso do Sul é rota de contrabandistas de cigarro, que faturam milhões com o crime, por causa das fronteiras com a Bolívia e o Paraguai. Por ser estratégico, criminosos montam uma complexa estrutura para que as cargas com o contrabando cheguem aos mais diversos lugares do Brasil.
De 2018 até o início deste ano, as apreensões das forças policiais em Mato Grosso do Sul impuseram um prejuízo de pelo menos R$ 1,5 bilhão aos contrabandistas. O valor dá uma ideia do alto volume de recursos movimentado pelos criminosos. Só no mês passado, conforme o Ministério da Justiça, foram apreendidos 3,1 milhões de pacotes de cigarro no Estado, o maior volume dos últimos sete meses.
Para chegarem ao comércio e serem vendidos a preços baixos, os cigarros vêm do Paraguai, onde são cobrados 18% de impostos.
No Brasil, esse porcentual pode chegar a 90%, segundo informações do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP). Com isso, o produto ilegal é vendido a cerca de R$ 3, enquanto os comercializados legalmente chegam a R$ 8.
“De 10 marcas vendidas no Brasil, quatro são contrabandeadas. O mercado está sendo dominado pelo crime e, se uma pessoa compra um cigarro ilegal, ela vai estar contribuindo para o mercado ilegal”, disse o presidente do FNCP, Edson Vismona.
Segundo dados do ano passado, 87% dos cigarros que circulam no Estado são contrabandeados do país vizinho.
Para chegar ao Brasil, a logística criminosa distribui os cigarros para os chamados “atravessadores”, que fazem o produto entrar em Mato Grosso do Sul tanto pelas fronteiras secas quanto pelas que são separadas por rios. Segundo Vismona, quem recebe os produtos no Brasil partilha a carga em vans e, por fim, são reunidas em caminhões, sendo levadas para todo o Brasil.
“É um crime que possui vários elos; uma cadeia criminosa que vai se unindo e, com isso, gerando um lucro. Evidentemente, quem está na ponta recebe mais, mas cada elo tem sua lucratividade garantida. É um potencial muito organizado”, disse Vismona.
O contrabando movimentou cerca de R$ 352 milhões apenas em 2019 e, com isso, o Estado deixou de arrecadar R$ 205 milhões de impostos.
“É uma logística profissional que sai do Paraguai, atravessa Mato Grosso do Sul e o Brasil e chega ao Nordeste, no outro extremo do País”, explicou Edson, informando que o principal destino do contrabando ainda é São Paulo.
CORRUPÇÃO
Dentro dessa logística estão policiais que, por meio de propina, são corrompidos e facilitam a entrada do cigarro no Brasil. No último mês, a alta patente das forças policiais de Mato Grosso do Sul, que integravam a “Máfia dos Cigarros”, foi alvo de operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) contra o contrabando de cigarros.
Segundo as informações, havia uma tabela de propina já acertada com os fornecedores do produto no Paraguai. Dependendo da patente dos envolvidos no esquema, a propina variava de R$ 10 mil a R$ 150 mil por mês. Um valor que já está incluído quando a carga sai do Paraguai.
“Esse agente público está traindo os princípios que devem reger; tem de ser combatido duramente. Há muito dinheiro envolvido, esse é o problema, e algumas pessoas acabam cedendo”, criticou Vismona.
O esquema de facilitação de passagem das cargas de cigarros não é novo no Estado. Em abril de 2017, a Corregedoria da PM detectou uma rede de policiais militares, maioria da fronteira, envolvidos em crime de corrupção e organização criminosa. “É uma perversão triste transformar os agentes públicos em criminosos, as forças policiais têm de cortar na carne”, finalizou.