16/09/2020 às 10h47min - Atualizada em 16/09/2020 às 10h47min

Seca nos rios impacta agricultura e Estado deixa de movimentar 50% do recarregamento de soja

Grãos que sairiam de Mato Grosso do Sul em embarcações voltaram para caminhões

Súzan Benites
Recarregamento de grãos em caminhões já resultou em prejuízos de R$ 3 milhões; seca nos rios deve continuar - Divulgação/Semagro

O Rio Paraguai enfrenta a pior seca dos últimos anos. A régua fixada próximo à base da Marinha, em Ladário, acusa que o nível da água do rio Paraguai está 9 centímetros abaixo de zero no local. 

A situação não é muito diferente em Corumbá e Porto Murtinho. Com o baixo calado (profundidade), as embarcações ficaram sem condições de navegar e por isso a soja teve de voltar por meio de caminhões. Somente em um porto os prejuízos ultrapassam R$ 3 milhões.  

Conforme dados divulgados pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), em 2015 o nível mínimo do rio foi de 153 centímetros; em 2016, de 121 cm; em 2017 subiu para 155 e em 2018 chegou a 234 centímetros. 

No ano passado o nível mínimo do rio recuou para 95 centímetros e nesse ano já está negativo, porém, a situação ainda deve piorar, com recuo contínuo das águas até fim de outubro. Em Porto Murtinho, o calado está abaixo de 2 metros e a previsão é que em outubro chegue a 1,67 metro.

Os portos de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho precisaram suspender as operações hidroviárias. O Estado deixou de movimentar 50% do volume previsto de cargas de grãos e minério de ferro pela hidrovia em 2020.


De acordo com o sócio do terminal da FV Cereais, Peter Ferter, o transporte de mais de 200 mil toneladas foi inviabilizado. 

“A gente tinha 10 mil toneladas de soja para embarcar, deve dar mais de 200 caminhões, e nós tivemos que carregar de volta nos caminhões essa soja. Então impacta no pagamento do frete de ida e de volta, por conta do calado do rio que não dava para embarcar. Fora outros negócios que não conseguimos fazer. Com certeza tivemos prejuízos, mas é a natureza, não temos o que fazer. Não foi a primeira nem a última. As pessoas da região dizem que há uns 20 anos aconteceu o mesmo. O prejuízo foi de no mínimo R$ 3 milhões”, destacou.  

Ferter espera que no ano que vem a situação do rio seja outra. “Para o ano que vem já  tenho 400 mil toneladas [de soja] contratadas para serem embarcadas por Porto Murtinho. A nossa expectativa é embarcar até 1 milhão de toneladas de grão em 2021, se as chuvas ajudarem e tivermos o calado do rio em condições de fazer esse embarque”, reiterou.

Conforme já noticiado pelo Correio do Estado, a Semagro estima que os terminais portuários de Porto Murtinho deixarão de exportar 40% do volume de soja pela hidrovia neste ano. “A seca extrema já prejudicou as exportações, com prejuízos enormes, e afetará também o turismo, a pecuária do Pantanal e a mineração”, afirmou o titular da Semagro, Jaime Verruck.

O secretário cita dois fatores que precisam ser atacados urgentemente: o alto nível de assoreamento do rio, com dragagem de manutenção, e a melhoria da sinalização náutica, hoje a cargo da Marinha.

CHUVAS

Dados do Centro de Monitoramento de Tempo, do Clima e dos Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS) apontam que deve chover entre os dias 19 e 21 de setembro e também 25 e 26, embora em proporções abaixo do necessário para elevar o nível dos rios. 

No entanto, deve servir para melhorar a qualidade do ar e apagar focos de incêndios.

O gerente de Recursos Hídricos do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), Leonardo Sampaio, disse durante live transmitida pelo Facebook, que o rio deve continuar baixando. 

“Neste ano não houve cheia, ou seja, o rio não saiu de seu leito, o que geralmente ocorre nos meses de junho e julho. Nessa época, o nível do Rio Paraguai estava pouco acima de dois metros, agora já está negativo e vai continuar baixando. Isso restringe muito o uso do rio, sobretudo a navegação”, explicou.

QUEIMADAS

Outro problema enfrentado pelo setor rural de Mato Grosso do Sul são as queimadas. O governo do Estado declarou estado de emergência em razão da estiagem e das queimadas para todo o Estado. Medida foi publicada na edição extra do Diário Oficial de MS nesta segunda-feira (14).

A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,  Tereza Cristina Dias, disse durante coletiva de imprensa em Campo Grande, nesta terça-feira (15),  que os prejuízos para os produtores estão sendo contabilizados. 

“O Estado deve estar fazendo um levantamento. Nós também estamos fazendo com os problemas dos produtores não só do Pantanal. Tivemos produtores de florestas plantadas que tiveram grandes prejuízos na Costa Leste em Três Lagoas, Inocência, nesta região. Estamos levantando isso para ver como é que podemos ajudar. Mato Grosso do Sul tem 500 brigadistas voluntários que trabalham nas regiões apagando esses incêndios. É a união de todos, a precaução, que vai fazer com que a gente estanque esse problema até que a chuva chegue e aí possamos plantar uma grande safra novamente”, disse. 

O diretor-tesoureiro da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Marcelo Bertoni, reforça que ainda não há como contabilizar os prejuízos ao produtor. 

“Ainda não foram mensurados impactos econômicos das queimadas na agropecuária do Estado, entretanto, o Sistema Famasul está constantemente alertando produtores e trabalhadores do campo quanto à necessidade de medidas de prevenção e combate aos focos de incêndio em suas propriedades. As orientações estão sendo repassadas aos 69 sindicatos rurais e aos 200 técnicos de campo que atuam em mais de 5 mil propriedades rurais do Estado”.

Mais de 1 milhão de hectares do Pantanal sul-mato-grossense foram queimados.  

Hidrovia

A Hidrovia do Paraguai tem 3.227 km, de Cáceres (MT) a Nova Palmira (Uruguai), cortando o Pantanal de Mato Grosso do Sul por mais de 1.200 km (Corumbá-Porto Murtinho). 


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