18/09/2020 às 10h15min - Atualizada em 18/09/2020 às 10h15min

Médicos não aparecem para trabalhar e segurados penam na fila do INSS

Trabalhador chegou a ter perícia agendada de ontem para hoje, mas voltou para casa sem atendimento

Campo Grande News - Maciulevicius Brasil e Bruna Marque
A fila no INSS dobrava a esquina, da Rua Anhanduí até a Rua Joel Dibo. (Foto: Henrique Kawaminami)


A fila na Agência Anhanduí do INSS estava dobrando a esquina na manhã desta sexta-feira (18). Trabalhador que acordou cedo, saiu de casa, gastou tempo e gasolina para de novo. não conseguir ser atendido, e o pior, gente que estava marcada para ter perícia médica hoje também saiu revoltado porque os médicos decidiram não atender.

Funcionária pública aposentada, Cimaura da Cruz Gonçalves, de 56 anos, foi a primeira a chegar, por volta das 6h40. Levando o sobrinho, que tem deficiência física e mental, a perícia médica estava marcada para 7h, quando 7h30 ela recebeu a notícia de que ninguém seria atendido, porque os médicos não voltaram a trabalhar.

 
Cimaura foi a primeira a chegar na agência e apesar de ter perícia agendada, voltou para casa sem resposta nem previsão. (Foto: Henrique Kawaminami)

Cimaura foi a primeira a chegar na agência e apesar de ter perícia agendada, voltou para casa sem resposta nem previsão. (Foto: Henrique Kawaminami)

Cimaura foi a primeira a chegar na agência e apesar de ter perícia agendada, voltou para casa sem resposta nem previsão. (Foto: Henrique Kawaminami)

"O benefício dele foi cancelado há três meses e até hoje a gente não sabe o porquê. Ninguém fala nada. Agendamos online há 15 dias, cheguei cedo, porque sei que lota e queria ser uma das primeiras", explica.

Em casa, moram ela, o filho com síndrome de Down, o sobrinho e a mãe com Alzheimer, no bairro Ana Maria do Couto. A renda da família é de três salários mínimos, contando com a aposentadoria de Cimaura e da mãe. "Eu tô bem chateada, porque esse benefício faz muita falta, ele não tem condições de trabalhar e a gente tem que pagar fisioterapia para ele".

A esperança deles hoje era resolver o problema, passando pela perícia para mostrar os laudos médicos. "A gente fica mais bravo ainda porque não tem quem questionar, é tudo online, tudo por telefone. Ele não tem condições de trabalhar", desabafa.

Paulo mostrando uma das cicatrizes da cirurgia. (Foto: Henrique Kawaminami)

Paulo mostrando uma das cicatrizes da cirurgia. (Foto: Henrique Kawaminami)

Paulo mostrando uma das cicatrizes da cirurgia. (Foto: Henrique Kawaminami)
Casal, Márcia e Paulo, saiu de casa cedo, gastou gasolina, para voltar para casa sem passar por perícia. (Foto: Henrique Kawaminami)

Casal, Márcia e Paulo, saiu de casa cedo, gastou gasolina, para voltar para casa sem passar por perícia. (Foto: Henrique Kawaminami)

Casal, Márcia e Paulo, saiu de casa cedo, gastou gasolina, para voltar para casa sem passar por perícia. (Foto: Henrique Kawaminami)

Serviços gerais, Paulo de Lima, de 51 anos, já está afastado há mais de um ano. Na casa da família, no bairro Jardim Anache, moram ele, a esposa, os dois filhos pequenos e a sogra. "Um ano atrás ele infartou, ficou recebendo, renovaram e em julho ele parou de receber, entramos de novo com o pedido, vimos que foi indeferido. Ele está infartado, fez cirurgia", conta a esposa, Márcia de Lima, de 46 anos.


Depois de verem que o pedido havia sido negado, ligaram novamente no 135 ontem para agendar. O casal relata que a perícia presencial foi marcada de imediato, para hoje. "Acordamos 5h da manhã, viemos de longe, pegamos dinheiro de onde não tinha para vir, gastamos gasolina. É um descaso com a população", fala o casal.

Gari, Antônio Ademir Ferreira, de 50 anos, também volta para casa sem saber o que fazer, depois de ficar sem receber o auxílio. Com a esposa diarista e sem renda fixa, a situação financeira é bem difícil na família. Afastado por machucar o joelho, há um mês ele não recebe mais o benefício e espera por uma cirurgia.

Aviso de que não haveria perícia médica foi feito às 7h30 da manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)

Aviso de que não haveria perícia médica foi feito às 7h30 da manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)

Aviso de que não haveria perícia médica foi feito às 7h30 da manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)

"Parei de receber, voltei no médico ontem, peguei um atestado de 90 dias, liguei e fui agendado para hoje", conta. "Chego aqui, espero e falam que não vai ter perícia, porque os médicos não vieram. Isso é uma sacanagem, a gente não aguenta trabalhar, não recebemos da firma, não recebemos do INSS", lamenta.

O INSS diz que atendeu a todas as exigências dos médicos peritos para a volta ao trabalho e que a Agência onde  foi na segunda-feira (14) e voltou hoje (18), está pronta para atender. Nesta sexta-feira, 52 segurados estavam agendados, mas em virtude da ausência dos peritos tiveram que retornar e vão ter as perícias remarcadas.

Sem previsão de volta - Em nota, a ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos) informa que enquanto não forem feitas vistorias técnicas nas agências do INSS pelo corpo técnico médico pericial da carreira, não haverá retorno do atendimento presencial, "pelo elevado risco de transformar a população idosa e doente que frequenta os postos em alvo de contaminação pelo novo coronavírus".

Quanto à determinação de retorno imediato pelo Governo Federal, através da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, a Associação fala que a "suposta determinação de retorno imediato será ignorada pois ordem ilegal não deve ser cumprida e estamos defendendo o direito à vida dos cidadãos, tanto a nossa como a dos segurados".

Ainda segundo a Associação, a vistoria feita pelo INSS nas agências de todo País "fraudou diversos itens de checagem que comprometem a segurança sanitária das agências e simulou vistorias usando servidores leigos com cargo comissionado sem a devida formação legal e despreparados tecnicamente para falsear aprovações de agências que foram consideradas inaptas pelo corpo técnico do próprio governo".

A Associação também afirmou que vai responsabilizar legalmente os gestores do INSS e da Secretaria de Previdência caso algum servidor ou segurado venha a adoecer ou morrer de covid-19 como resultado "dessas medidas ilegais e de força que eles estão anunciando contra a categoria".

 

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