18/11/2020 às 09h34min - Atualizada em 18/11/2020 às 09h34min

Por que uma carta de Pokémon pode valer R$ 1,3 milhão? Conheça o mercado

Por que uma carta de Pokémon pode valer R$ 1,3 milhão? Conheça o mercado

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Youtuber mostra carta do Pokémon Charizard comprada por US$ 150 mil Foto: Reprodução/Youtube/Logan Paul

Charizard holográfico da primeira edição de 1999 em condições perfeitas e autenticado pela PSA com nota 10. Uma combinação de palavras que provavelmente não quer dizer absolutamente nada para boa parte da população mundial. Mas, para colecionadores de cartas de Pokémon, trata-se de um produto raríssimo e extremamente cobiçado.

Para explicar a descrição, vamos por partes. Charizard é uma criatura ficcional dos tipos Fogo e Voador e com aspecto de dragão. Ele é um dos 151 Pokémons iniciais e teve sua primeira aparição no jogo Red & Blue, lançado originalmente no Japão em 1996 por Nintendo e Game Freak.

(Enquanto este texto é escrito, uma carta com as características acima é leiloada no eBay por uma casa especializada, a PWCC Auctions. O preço atual é de US$ 200 mil ou aproximadamente R$ 1,06 milhão, mas isso deve mudar nas próximas horas. Vou mantendo vocês informados.)

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Esse game, um enorme sucesso, foi o que permitiu a expansão da franquia para outras plataformas, hoje mais reconhecidas inclusive. Dá para citar, por exemplo, o desenho animado, a história em quadrinhos e o jogo de cartas (conhecido como Trading Card Game, ou TCG).

Com essas informações já é possível montar a primeira parte do quebra-cabeça. A primeira edição do TCG foi lançada em 1996 no Japão e em 1999 nos Estados Unidos, ou seja, essa carta em leilão é dessa primeiríssima edição em inglês e tem 21 anos de vida. (O item acabou de receber um lance de US$ 220 mil ou R$ 1,174 milhão).

Próximo ponto: a holografia. Esse é um conceito mais genérico e trata-se de uma técnica em que a interferência de luz é aplicada de forma a fazer com que imagens apresentem um efeito tridimensional. Na carta, ele aparece neste brilho avermelhado atrás do monstrengo cuspindo fogo, algo raríssimo nesta edição.

"A cada lançamento de coleção a franquia traz novidades para incrementar o mercado de coleção e competitivo. As raridades das cartas são divididas em 5 níveis: comum, incomum, rara, ultra rara e secreta rara", diz Mariana Dall'Acqua, diretora de Marketing da Copag, empresa responsável pela distribuição e comercialização do TCG no Brasil. E o Charizard em questão está no topo da pirâmide, é claro.

E, para concluir a dissecação da criatura (que agora já vale US$ 226 mil ou R$ 1,206 milhão), é preciso expandir do mundo dos Pokémons para o universo dos colecionadores, que é gigante nos Estados Unidos. 

Eles colecionam e comercializam de tudo: cartas de atletas, tipo nosso álbum da Copa do Mundo; ou de Magic, outro jogo famoso; livros e histórias em quadrinhos; produtos autografados; e até ingressos de shows e eventos esportivos icônicos. 

Normalmente, os produtos são garimpados — itens em condições perfeitas levam vantagem-- e enviados para avaliação, ganhando assim valor de mercado. Mas quem dita essa nota? A coisa é tão avançada por lá que há empresas especializadas nisso, como a PSA, citada na descrição. 

Essas companhias cobram a partir de US$ 10, ou pouco mais de R$ 50, para chancelar as condições de cada produto, dando uma nota de 0 a 10. No caso das cartas, eles checam detalhes minuciosos, como se o desenho estampado está centrado ou se as pontas do objeto são simétricas. E o produto em questão teve nota máxima.

Com isso, temos todos os elementos necessários para pelo menos entender o que está escrito ali em cima. Trata-se de uma carta com mais de 20 anos, a mais rara entre as mais de 10 mil produzidas pela franquia até hoje, com condições de produção e conservação perfeitas. 

Isso além do Charizard ser um Pokémon extremamente forte (isso conta para aqueles de fato jogam com as cartas) e um dos mais queridos pelos fãs. Todo esse amor vale agora US$ 230 mil, ou R$ 1,227 milhão.

Mercado

Por falar em fãs, são eles que fazem todo esse mercado rodar. Dados da consultoria IBISWorld mostram que o setor de colecionáveis e antiguidades vem crescendo de forma consistente nos últimos anos e deve movimentar, apenas nos EUA, pelo menos US$ 1,5 bilhão em 2020.

No Brasil, também há um público fiel do segmento. Bruno Zuppone coleciona cartas de Pokémon desde 1999, quando viu pela primeira vez num supermercado. Depois de idas e vindas e parte do acervo perdido em mudanças, decidiu criar um canal no YouTube em 2016 para falar sobre o tema. O nome é O Colecionador.

Ele estima que o seu espólio conte hoje com mais de 20 mil cartas, algumas delas repetidas. "Minha coleção tem valor estimado de US$ 50 mil (R$ 266 mil) e a mais valiosa é um Charizard da primeira edição em português. Só ele vale US$ 10 mil (R$ 53 mil)", conta.

Questionado sobre a valorização vultuosa dos produtos, ele cita alguns pontos como a longevidade da franquia e adaptação da própria distribuidora das cartas. "Antes as coleções eram simples. Agora elas têm mais cartas e mais cartas raras, o que atrai muita gente", afirma.

Esse movimento citado por Zuppone ficou em evidência durante a pandemia do novo coronavírus. Colecionadores do mundo inteiro passaram a comprar pacotes de cartas de Pokémon em busca de itens raros para revender na internet. "Várias vezes eu ia nas lojas e estava tudo esgotado", diz. 

A IBISWorld corrobora com isso e mostra que, apenas em 2020, esse mercado cresceu 3,5%, podendo avançar ainda mais. (Enquanto você lia isso, a carta do Charizard recebeu um lance de US$ 240 mil, ou R$ 1,278 milhão).

Corretoras

Se o que foi apresentado até aqui ainda não te convenceu da magnitude do segmento, segue a cartada final. Há pelo menos três corretoras de valores certificadas pela Securities and Exchange Commission, a CVM americana, focadas em produtos colecionáveis: Mythic Markets, Rally e Otis.

A primeira, fundada por Joe Mahavuthivanij em 2018, tem uma proposta inovadora. Os especialistas da própria empresa pesquisam, avaliam e compram itens colecionáveis com grande apelo popular. Depois disso, realizam o IPO daquele item no site da marca e as pessoas compram "ações" dos produtos.

É possível, neste momento, comprar ações de um exemplar do primeiro gibi do Quarteto Fantástico. Cada ação custa US$ 32 e há 1000 papéis disponíveis, dando à HQ o valor total de US$ 32 mil. Se você pensou que é parecido com uma empresa, acertou. Inclusive, cada item ganha o seu próprio CNPJ.

"Agora estamos trabalhando num mercado secundário que deve ser lançado no primeiro trimestre do ano que vem. Isso vai gerar liquidez para os produtos", disse Mahavuthivanij ao CNN Brasil Business. "Não posso garantir ganhos por motivos óbvios, mas esse é um mercado que vem se valorizando mais que ações e ouro há anos."

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A empresa também está pensando em uma forma de aproximar os sócios do produto, já que, neste caso específico, grande parte da graça de se colecionar objetos é poder vê-los ou tê-los em exposição.

"Nós mantemos os produtos no nosso cofre no estado de Oregon, por questões tributárias, mas a nossa sede é na Califórnia", diz. "Um dos nossos próximos passos é abrir o espaço para visitação, para que fãs consigam se aproximar e ver os produtos que são donos de perto."

(Balanço final: com oito dias de leilão pela frente, o Charmander holográfico da primeira edição de 1999 em condições perfeitas e autenticado pela PSA com nota 10 vale US$ 240,4 mil, cerca de R$ 1,303 milhão.)


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