Do búfalo que ficou preso na lama no que restou de uma lagoa ao ribeirinho que caminha, por onde antes passava um dos principais rios de Mato Grosso do Sul, a seca no Pantanal segue mudando paisagens e dificultando a rotina de quem vive por lá. O flagrante do animal atolado, próximo ao Rio Abobral é um dos retratos desoladores da estiagem.
Na região pantaneira de Corumbá até choveu no último final de semana, mas nada que mudasse consideravelmente a paisagem. Na cidade, o baixo nível do rio Paraguai também é um reflexo da falta de chuvas. "Já compromete o escoamento dos minérios de ferro e manganês”, comentou Luciano Leite, presidente do sindicato rural e secretario de desenvolvimento econômico sustentável da cidade.
Mas, Luciano explica que nenhuma situação é mais crítica do que na região do baixo Taquari, onde o rio está seco por aproximadamente 150 quilômetros. A falta de água também gera prejuízo e torna ainda mais difícil o acesso as cerca de 250 famílias que vivem no local.“O acesso que antes era feito de barco, agora só é feito de veículo, passando pela Estrada Parque, Nhecolandia e a viagem pode durar até 10 horas”, acrescenta.
Para tentar diminuir o isolamento e atender necessidades mínimas dos moradores, na última terça-feira (03) um mutirão com o apoio do Exército seguiu para o local. Foram levadas para as famílias 230 cestas básicas, além de brinquedos e roupas. Equipes também foram prestar o atendimento médico e odontológico aos moradores.
A iniciativa é parte do programa Povo das Águas e reuniu cerca de 22 servidores das secretarias de saúde, cidadania entre outros órgão ligados a prefeitura. Pela primeira vez nas edições do programa, as equipe tiveram de se deslocar por terra para a região do baixo Taquari, devido a seca atípica do rio.
De prontidão - A estiagem também gerou reforço dos bombeiros para o atendimento às queimadas ou até mesmo ribeirinhos em casos de emergência. “Como acesso por terra é muito demorado, todos os pedidos de socorro que envolvem salvamento serão feitos em conjunto com o esquadrão de helicópteros da Marinha”, comentou o sargento Martir, do Corpo de Bombeiro de Corumbá.
Desde novembro, uma aeronave do GOA (Grupamento de Operações Aéreas) dos bombeiros na Capital, também está de prontidão. “O único empecilho é que a região do salvamento precisa ter pista de pouso”, acrescenta.
Sem vida - No baixo Taquari as poças onde os peixes agonizam diante do sol escaldante é o que resta do rio.Água farta mesmo, só na lembrança do ribeirinho e produtor rural Márcio Avellar, dono da fazenda Porto Sagrado na colônia São Domingos.
“O Taquari jogava água nas margens, enchia as bahias e garantia a irrigação das plantações. Mas com o tempo ele parou de transbordar, a maioria dos ribeirinhos vendeu o seu gado e hoje só vive ali quem tem poços artesianos. Dá para atravessar a pé de um lado para o outro”, comenta. Ele também se queixa do isolamento agravado pela seca na região.
“São pelo menos 250 quilômetros até Corumbá e, mesmo de carro temos que sair de manhã para chegar lá à tarde. A falta de água afetou toda a nossa região, comprometeu a produção agrícola, a acessibilidade, mudou toda a configuração de vida de nós ribeirinhos”, lamenta.