16/02/2022 às 12h46min - Atualizada em 16/02/2022 às 12h46min

Em 2011, chuvas que atingiram região serrana do RJ deixaram quase mil mortos

Entre 2009 e 2011, Angra dos Reis e o Morro do Bumba, em Niterói, também registraram tragédias com enchentes e deslizamentos

Bruna Carvalhoda CNN
Destruição causada pela chuva em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira (16). Foto: Lucas Lamela

Um outro desastre climático atingiu a região serrana do Rio de Janeiro em 11 de janeiro de 2011. Foram 918 mortos e 100 desaparecidos. Aproximadamente 35 mil pessoas perderam suas casas ou tiveram que sair por conta do risco de desabamento.

O município mais atingido foi Nova Friburgo com 418 mortes. Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto também foram afetados. Além de deslizamentos, rios também transbordaram. Casas, comércios, pontes e ruas ficaram destruídas.

Uma das cenas mais impactantes aconteceu no município de São José do Vale do Rio Preto. Na imagens uma mulher aparecia na laje de uma casa segurando cachorros. O entorno era de destruição. Ao redor do imóvel, uma forte correnteza de água e lama deixava um rastro de destruição. A mulher foi resgatada com uma corda segundos antes de a casa desabar.

De acordo com o especialista em drenagem urbana e professor da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Matheus Martins, a chuva que atingiu Petrópolis nesta terça-feira (15) teve um volume semelhante a dos eventos de 2011 na região serrana.

“O pico da chuva que atingiu Petrópolis na tarde de terça-feira no posto do Alto da Serra, teve um intensidade máxima de 199,2 mm/h. Foram quatro horas de chuva. Em Nova Friburgo Friburgo, em 2011, choveu 281,6 mm em oito horas, no Posto Ypu. A intensidade máxima registrada foi de 88 mm/h no posto Olaria. Na chuva de Petrópolis de terça-feira o pico foi de 200 milímetros por hora, enquanto em 2011 o pico máximo foi de 90 milímetros”, explicou.

O professor ainda disse que diferente de 2011, a chuva foi concentrada em uma área da cidade,o que provocou estragos ainda maiores.

“A chuva de ontem foi atípica. Foi uma ocorrência muito rara. Muito mais forte do que Petrópolis está acostumada. Foi uma chuva mais localizada ali no entorno do Centro. Não como a de 2011 que foi em vários municípios. E ela encontrou um solo seco. Diferente de em 2011 que o solo já estava úmido. O mês de dezembro já tinha sido com chuvas maiores. O solo mais saturado possibilidade maiores chances de acontecer deslizamento.”

Ele também destaca que Petrópolis está localizada em uma região bastante úmida que chove acima da média de outros pontos do Rio de Janeiro e que a formação da cidade também influencia nesses eventos.

“A topografia é bem propícia a esse tipo de evento. Uma inundação rápida com alta velocidade. O que chamamos de enxurrada”, disse Martins.

Chuvas também fizeram vítimas na costa verde

No dia 31 de dezembro de 2009, 53 pessoas morreram depois que fortes chuvas atingiram a cidade de Angra dos Reis, na região do Estado conhecida como costa verde. Na Enseada do Bananal, que fica na Ilha Grande, uma pousada foi soterrada. A maior parte dos deslizamentos aconteceu durante a madrugada.

Cerca de 80 bombeiros trabalharam no resgate. A chuva que atingiu Angra, entre os dias 31 de dezembro e 1 de janeiro, foi apontada por especialistas como o maior volume de água em 24 horas dos últimos 10 anos anteriores a tragédia. Segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), foram 142,9 mm de água, um volume normalmente registrado em um mês.

Ainda de acordo com o especialista Matheus Martins, na tragédia de Angra as chuvas e o tipo de solo contribuíram com a situação.

“Apesar de ser uma encosta com vegetação, tem um solo bem característico da mata Atlântica. É um solo raso, alguns metros de profundidade até a rocha. Em solo raso quando a água satura a terra escorre por cima da rocha causando o deslizamento”, explicou.

Niterói: 48 mortos no morro do Bumba

Em 7 de abril de 2010, 48 pessoas morreram em um deslizamento de terra no morro do Bumba, favela localizada em Niterói. A tragédia deixou mais de 200 pessoas desaparecidas. Cerca de 3.000 pessoas foram atingidas pelo desastre. Pelo menos 300 bombeiros participaram do trabalho de resgate.

As casas foram construídas em cima de um antigo lixão desativado em 1982. Cerca de 200 imóveis foram construídos no local. O risco de deslizamentos na região já havia sido sinalizado por pesquisadores desde 2004. De acordo com Martins, no morro do Bumba as chuvas também saturaram o solo.

“No Bumba choveu bastante por mais de um dia. Teve a questão do solo ser um aterro, que tinha uma estabilidade menor.”

Monitoramento e sirenes

Algumas áreas de risco já possuem monitoramento e sirenes que são acionadas em caso de chuva forte, como explicou o especialista.

‘Para as cidades enfrentarem esse tipo de chuva a melhor coisa a se fazer é tentar evitar áreas de risco, ou seja tentar evitar regiões próximas a rios, encostas. Fazer um monitoramento e um sistema de alerta para as regiões de maior risco onde já tem ocupação consolidada. Monitoramento com pluviômetros e o sistema de alarme a partir do volume contabilizado. Na questão da inundação o alerta também é importante. Entretanto é mais difícil monitorar uma enxurrada porque ela é muito repentina. É como se fosse uma tromba d’água que a gente vê em uma cachoeira”, disse Martins.

Fotos – Chuvas causam destruição em Petrópolis


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