14/11/2023 às 11h20min - Atualizada em 14/11/2023 às 11h20min

Incêndios acima da média, calor excessivo e fogo em MT preocupam pesquisadores

Em Mato Grosso do Sul, a condição do clima pode favorecer o surgimento de novos focos de queimadas durante a semana

JUDSON MARINHO E RODOLFO CÉZAR, DE CORUMBÁ
Michel Alvim/SECOM-MT

Queimadas no Pantanal de Mato Grosso com as temperaturas máximas acima da média registradas em Mato Grosso do Sul preocupam pesquisadores e autoridades para possíveis ocorrências de novos focos de incêndios no Pantanal sul-mato-grossense.

De acordo com a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), Renata Libonati dos Santos, é esperado que nesta semana a região da Bacia do Alto Paraguai, que engloba grande parte do município de Corumbá, tenha grandes riscos de queimadas até sábado.

“A gente espera, durante este período de onda de calor para os próximos dias, uma boa parte do Pantanal, na Bacia do Alto Paraguai, com perigo de fogo muito alto, e isso requer muita atenção, com controle das ignições e que as pessoas não coloquem fogo, porque, caso haja ignição, a chance de termos um incêndio incontrolável é muita alta”, afirmou Renata.

A coordenadora do Lasa também informou que nesta semana as condições meteorológicas de Mato Grosso do Sul são mais propícias para focos de fogo que Mato Grosso, estado que já sofre com os incêndios florestais que se iniciaram na semana passada.

“Requer em Mato Grosso do Sul muita atenção para o controle e para a prevenção dessas ignições, para que sejam evitadas situações de difícil controle, caso o incêndio se inicie”, ressaltou.

Na sexta-feira, uma nuvem de fumaça gigantesca, ocasionada pelo fogo em Mato Grosso chegou a se formar no norte de Mato Grosso do Sul e encobriu uma parte da Serra do Amolar, que tem pico de quase mil metros de altitude.

A fumaça dos incêndios percorreu a região norte e leste do Estado, chegando a mudar as condições do ar no estado de São Paulo no fim de semana.

Ao Correio do Estado, o professor e coordenador do projeto QualiAr da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Widinei Alves Fernandes, esclareceu que, por meio de dados de satélite, foi possível observar no céu de MS a presença da nuvem de fumaça dos incêndios de Mato Grosso.

“Essa fumaça passou pela região oeste do Estado, Corumbá e Porto Murtinho, e aparentemente a fumaça afetou a qualidade do ar em Campo Grande. Quando temos essas queimadas, elas lançam na atmosfera partículas de poluição que, [quando] inaladas pelas pessoas, potencializa bastante a chance do desenvolvimento de problemas respiratórios, AVC e problemas cardíacos”, declarou Fernandes.

O professor ainda alertou que durante o período de queimadas é recomendado 
o uso de máscaras e evitar atividades físicas ao ar livre, isso porque os valores de partículas concentradas no ar aumentam consideravelmente, deixando maior o risco de problemas de saúde.

FOCOS DE QUEIMADAS

De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), o Corpo de Bombeiros já está em atuação na região pantaneira desde o dia 17 de maio, com um efetivo empregado atualmente de 296 bombeiros e bombeiras militares nas ações de prevenção, preparação e combate aos incêndios florestais na região.

Em suas redes sociais, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) também informou que a sua brigada de incêndio no Alto Pantanal e a equipe do Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais/Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Prevfogo/Ibama) estão atuando em conjunto por conta do avanço de incêndios florestais na região norte de MS.

Os focos de incêndios florestais já preocupam, e as ações de combate, segundo o IHP, podem ser necessárias no decorrer da semana.

Dados do Monitoramento dos Focos Ativos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que, neste mês, em apenas 12 dias, já houve no Estado 874 focos ativos de queimadas em vegetação, número que ultrapassou o dobro de ocorrências da média histórica de Mato Grosso do Sul para novembro, que é de 400 focos.

PANTANAL

O fogo na região pantaneira está com muito mais intensidade a partir deste mês, e a situação em diferentes regiões do bioma pode caminhar para uma condição incontrolável.

Esse cenário é apresentado a partir dos dados levantados pelo Inpe, por meio do Programa Queimadas. Já foram identificados 2.256 focos, um aumento de 94% na comparação com o mês passado (1.157). 

Como equivalência, no ano passado os focos identificados foram de 48 e 201 em outubro e novembro, respectivamente. 

A situação atual só não está pior que em 2020, ano com recorde histórico de incêndios florestais no Pantanal.
Por conta dessa evolução do fogo no período de menos de 60 dias, quase 600 mil hectares foram consumidos pelas chamas em todo o bioma, de acordo com o sistema Pantanal em Alerta, do Corpo de Bombeiros Militar de MS. Esse território devastado corresponde a uma área de 833 mil campos de futebol.

Boa parte dessa área queimada está em Mato Grosso, em dois locais estratégicos para a conservação da vida selvagem.

Um deles é o Parque Nacional (Parna) do Pantanal Matogrossense, única propriedade federal dentro do bioma e que ajuda a formar um corredor de biodiversidade. Esse Parna está nas proximidades da divisa de Mato Grosso do Sul, sendo separado pelo Rio São Lourenço e pelo Rio Paraguai.

Os incêndios também atingiram mais de 20% do Parque Estadual Encontro das Águas, que envolve a região chamada Porto Jofre e que concentra a maior densidade populacional de onças-pintadas do Brasil.

O fogo nesses dois locais é registrado desde outubro e ganha força em virtude das condições climáticas favoráveis e da dificuldade no combate para debelar as chamas.

O descontrole da situação gerou uma reunião de emergência entre os governos federal e mato-grossense no sábado, um dia antes da data em que se comemora o Dia do Pantanal.

Naquele encontro, foi definido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima o envio de 90 brigadistas para os parques nacional e estadual, além da disponibilização de quatro aeronaves para fazer sobrevoos e levar as equipes para os locais mais remotos.

Ontem, houve uma definição de que o governo federal vai destinar recursos emergenciais para compensar os danos ambientais. Essa medida vai valer tanto para Mato Grosso como para Mato Grosso do Sul, envolvendo principalmente os municípios de Poconé (MT), Barão de Melgaço (MT) e Corumbá.

Ainda na segunda-feira, ocorreu uma reunião entre ministérios do governo federal e entidades que atuam no Pantanal para discutir medidas emergenciais e fazer a identificação da situação.

Apesar das iniciativas tomadas nos últimos quatro dias, a previsão é de aumento da temperatura nos próximos 15 dias na região. Não há previsão de chuva.


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