19/11/2023 às 14h21min - Atualizada em 19/11/2023 às 14h21min

Nota de Repúdio do Povo Guató à Novela “Terra e Paixão”

Nota de Repúdio do Povo Guató à Novela “Terra e Paixão”

Personagem Pajé Jurecê Guató, de Terra e Paixão.
Nós, lideranças dopovo Guató, vimos a público esclarecer que nunca estivemos extintos ou à beira da extinção no Pantanal, como sugere a trama da telenovela Terra e Paixão, produzida pela TV Globo e exibida desde 8 de maio de 2023.

A bem da verdade, há mais de um século que nosso povo tem sido vítima de um processo de invisibilidade étnica promovido por pessoas e instituições das mais diversas. O propósito maior desse processo de invisibilização está associado à violação de nossos direitos e à apropriação indevida das terras e águas que há séculos tradicionalmente ocupamos na região pantaneira.

Neste sentido, vimos a público repudiar a telenovela Terra e Paixão, transmitida pela TV Globo e escrita por Walcyr Carrasco, com coautoria de Thelma Guedes e colaboração de Vinícius Vianna, Nelson Nadotti, Márcio Haiduck, Dora Castellar e Cleissa Regina Martins, sob a direção geral de João Paulo Jabur e a direção artística de Luiz Henrique Rios, conforme consta no site Wikipédia.

Nosso repúdio se deve, especialmente, à maneira como foi criado e é retratado o personagem indígenaPajé Jurecê Guató, e não pela brilhante interpretação feita pelo nosso parente Prof. Dr. Daniel Munduruku.

O personagem é apresentado da seguinte maneira pelos autores da telenovela: “Pajé, remanescente da etnia guató. Um homem cheio de sabedoria, um xamã. Tem plena consciência da situação dos indígenas. Seu povo foi praticamente extinto, e os que sobraram, estão vivendo na floresta”, como consta no portal Gshow da TV Globo.

Vale dizer que o personagem não apresenta caraterísticas culturais do povo Guató, conhecido como povo canoeiro do Pantanal, e por isso mesmo serve mais para confundir as pessoas sobre como somos e onde vivemos do que promover a visibilidade e a valorização de nossa cultura. Além disso, oPajé Jurecê Guató, embora sábio como o são os xamãs indígenas, está mais para um rezador Mbyá, Guarani ou Kaiowá e, portanto, não se parece culturalmente com o nosso povo.
Pantanal, 18 de novembro de 2023.
 
 
Carlos Henrique Alves de Arruda
Cacique da Aldeia Aterradinho
 
Osvaldo Correia da Costa
Cacique da Aldeia Uberaba
 
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