04/09/2024 às 11h26min - Atualizada em 04/09/2024 às 11h26min

Famasul diz que há 900 propriedades reivindicadas por indígenas em MS

Em reunião na Alems, os representantes dos produtores rurais pedem o cumprimento de reintegração de posse em terras

O deputado estadual Coronel David e o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, durante reunião na Assembleia Legislativa de MS - Divulgação

De acordo com informações da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), no Estado, 900 propriedades rurais que são reconhecidas como território indígena estão sendo revindicadas pelos povos originários. Essas áreas, segundo a Famasul, somam mais de 275 mil hectares e abrangem 30 municípios do Estado. 

“Considerando áreas pretendidas nas fases delimitadas e declaradas, são cerca de 9 milhões de hectares que afetam 10.200 propriedades rurais, em 25 estados do Brasil”, disse a federação em nota.

As informações sobre as terras que são alvo de disputa entre proprietários rurais e indígenas foram proferidas em reunião organizada pela Famasul, que ocorreu ontem na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems), com a participação da Frente Parlamentar Invasão Zero (FPIZ) e a Frente Parlamentar de Defesa do Direito da Propriedade (FPDDP), comandadas pelo Deputado Estadual Coronel David (PL). 

Ao fim da reunião, o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, demonstrou preocupação com o conflito fundiário, principalmente com o impedimento do trabalho dos produtores rurais, que alegam dificuldades com o plantio e a colheita, por conta das retomadas indígenas nas terras.

“O produtor tem sofrido realmente com isso [conflitos fundiários], porque só com a decisão de reintegração de posse o produtor consegue o direito de plantar na área. Os produtores estão atrasados, porque não conseguiram jogar os insumos na terra antes do plantio, e eles precisam ter acesso à propriedade para plantar até o dia 15 de setembro”, declarou Bertoni.

Na reunião, os representantes dos produtores rurais alegaram que as comunidades indígenas, que estão reivindicando os territórios delimitados, mas não demarcados, não estão cumprindo com decisões judiciais de reintegração de posse e defendem a constitucionalidade do Marco Temporal.

Ao Correio do Estado, o deputado Coronel David informou que as partes envolvidas na reunião chegaram a um entendimento de que é necessário pressionar o Poder Judiciário para que essas ordens de reintegração sejam respeitadas.

“Houve o entendimento de que as invasões continuam acontecendo porque não está sendo respeitada a lei e, sobretudo, não estão sendo cumpridas as ordens de reintegração de posse. Por isso, foi decidido o encaminhamento de uma carta ao Ministro Gilmar Mendes, solicitando que a Justiça faça cumprir a lei e execute as ordens de reintegração”, disse o deputado.

Coronel David reforçou em reunião que a discussão dura mais de 25 anos e fere a preservação do Estado de Direito.

O presidente da Famasul ainda relatou que está apreensivo quanto a possíveis imparcialidades de decisões que podem ser tomadas pelo governo federal. Bertoni alega que houve exclusão dos produtores rurais nas discussões sobre segurança pública na região da terra indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina, quando foi criada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública uma Sala de Situação para monitorar e adotar providências quanto às demandas na região.

A reunião na Alems também contou com a presença do presidente da Acrissul, Guilherme Bumlai, do presidente da Nelore-MS, Paulo Matos, do presidente da Novilho Precoce, Rafael Gratão, da assessora da casa Civil, Luana Ruiz, do presidente da Casa de Leis, Gerson Claro, além de outros parlamentares.

Saiba: No dia 28 de agosto, a segunda reunião de conciliação sobre o Marco Temporal foi realizada no Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi discutido as propostas de indenizações. Ao término do debate, foi solicitado aos membros da comissão que trouxessem especialistas para serem ouvidos no próximo encontro, marcado para o dia 9.

VIOLÊNCIA EM DOURADINA

O conflito iniciado em julho, na terra indígena Panambi-Lagoa Rica, teve a sua tensão escalonada entre fazendeiros e indígenas no mês passado, quando ocorreram dois ataques de homens armados, deixando onze indígenas guarani-kaiowás feridos em Douradina, município localizado a 201 quilômetros de Campo Grande.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o primeiro ataque ocorreu no dia 3 de agosto.

De acordo com os relatos, homens armados em uma caminhonete atiraram contra os indígenas com munição letal e balas de borracha.

Dois indígenas ficaram em estado grave e foram levados para o Hospital da Vida, em Dourados. Um levou um tiro na cabeça e outro no pescoço.

O ataque ocorreu na área retomada Pikyxyin, uma das sete da terra indígena Panambi-Lagoa Rica, identificada e delimitada desde 2011.

Na noite do dia 4 de agosto, outro ataque contra os indígenas foi organizado. Homens armados atiraram balas de borracha na direção da comunidade e, novamente, indígenas foram feridos.

No total, cinco pessoas foram levadas em ambulância ao Hospital da Vida, em Dourados. Três deles foram feridos por armas de fogo e dois por balas de borracha.

Os casos mencionados fizeram com que as lideranças indígenas se reunissem com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, para relatar o ocorrido e pedir a intervenção do governo federal para acelerar o processo demarcatório da região.


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