16/02/2021 às 11h01min - Atualizada em 16/02/2021 às 11h01min

Campanha tem como tema central violência contra mulheres e LGBTs

Ao condenar atos contra algumas minorias, texto deste ano gerou críticas e informações falsas

ABERTURA. Igreja Católica coloca luz sobre violência sofrida pela comunidade LGBTQI+ e por outras minorias - Álvaro Rezende/Correio do Estado

Na Campanha da Fraternidade 2021, o tema proposto foi “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. 

O texto gerou polêmicas e críticas a grupos da Igreja Católica ao citar que um dos grupos sociais que mais sofre as consequências do preconceito é a comunidade LGBTQI+.

De acordo com o texto-base apresentado, o assunto reforça a importância das políticas de defesa aos direitos humanos das mulheres, dos negros e da comunidade LGBTQI+.

O documento ainda divulgou dados do último Atlas da Violência, que aponta que em 2018 foram registrados 1.685 casos de violência contra essa população e 420 homicídios.

“Uma das falsas notícias que fortalece a violência é a retórica de que direitos humanos servem apenas para defender ‘bandidos’. Esse discurso fragiliza cada vez mais os instrumentos institucionais que contribuem para a justiça”, diz o documento.

Com a defesa explícita da comunidade LGBTQI+ no texto-base, grupos de católicos conservadores têm usado as redes sociais para se manifestarem contra a realização da campanha.  

Para o professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Tiago Duque, a Campanha da Fraternidade sempre traz grandes contribuições para as discussões e ações em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.

“Tocar no tema da violência contra [a comunidade] LGBT é um modo de ver a realidade, para depois pensar fraternalmente sobre ela e se comprometer, nos termos da campanha, a transformá-la”, afirma.  

Ele ainda destaca que a repercussão negativa do tema é um bom sinal, pois indica que a ação se propõe a tratar de temas com que muitos fiéis, principalmente os mais fundamentalistas e conservadores, não estão preocupados.

 

“Na verdade, as críticas são fundamentadas em opiniões equivocadas e mentirosas sobre a realidade, neste caso sobre os direitos e as experiências LGBT, tudo para manter as pessoas mal-informadas e, além disso, legitimar relações de poder que mantêm a desigualdade e a violência contra os diferentes”, resume.

Segundo Duque, as críticas são um reflexo da sociedade atual, na qual as diferenças são vistas como práticas e valores criminalizados, seja por instituições religiosas, seja por autoridades de instituições públicas e privadas.

“No que se refere a gênero e sexualidade, além das informações equivocadas produzidas e divulgadas por muitos fiéis, há também os interesses de líderes religiosos e políticos em ganhar reconhecimento social criando falsos pânicos morais e se colocando como os salvadores daquilo que eles mesmos inventaram como sendo uma ameaça à família, à infância e à sociedade”, conclui Duque.

Diante dos discursos de ódio espalhados em diversas redes sociais de grupos católicos, o presidente da CNBB, Walmor Oliveira de Azevedo, afirmou em nota que o texto seguiu as estruturas do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), realizado em reuniões entre membros de diversas igrejas. 

“Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado pela comissão da CNBB, pois são duas compreensões distintas, ainda que em torno do mesmo ideal de servir a Jesus Cristo”.  

CAMPANHA

A Campanha da Fraternidade é realizada todos os anos, mas a cada cinco é feita de forma ecumênica e, por isso, busca o diálogo com outras denominações cristãs. Nesses anos, o tema é escolhido por membros do Conic, e não apenas pelo colegiado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que abrange somente a Igreja Católica.

No texto-base da campanha, a presidência da CNBB afirma que, para a doutrina católica, as questões de gênero seriam uma dimensão da sexualidade entre o corpo, a mente, o espírito e a alma. “O gênero é, portanto, maleável, sujeito a influências internas e externas à pessoa humana, mas deve obedecer à ordem natural já predisposta pelo corpo”.

Durante a Campanha da Fraternidade é arrecadado o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), recurso destinado a instituições de projetos sociais do País. 

Em nota, o presidente da CNBB garantiu que o dinheiro não será aplicado em ações que vão de encontro ao pensamento da Igreja, já que houve muita especulação sobre uma possibilidade de distribuição para causas que não estariam ligadas à doutrina católica.

“Os recursos só serão aplicados em situações que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica”, reforça a nota do presidente.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Envie Matéria pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp