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Samuel Marques Martins, 33 anos, não é mecânico de profissão, mas bem que tem um pezinho lá. Trabalhando há anos como como operador de harvester (veículo industrial de colheita), ele adquiriu desde que era jovem o conhecimento para montar do zero o que acaba de finalizar: um trator super "fofo", mas tem que uma força "do cão".
"Fiquei super satisfeito com o resultado final. Não só porque ficou uma graça, bonitinho mesmo, mas recentemente fiz um teste de força com o trator numa chácara de um amigo, e deu mais do que certo", comemora.
Seu "vermelhinho" não é rápido. Com velocidade entre 35-40 km/h, o modelo apelidado de SMM-200 – iniciais do seu nome mais a potência em cavalos – tem uma força "tremenda", segundo seu fabricante: o próprio Samuel.
"Pelo que vi, ele deve aguentar tranquilamente puxar de 2 a 3 carros populares – em ponto morto, claro – bem facinho", confirma.
Mato-grossense radicado em MS e buritiense do coração, foi no município de Dois Irmãos do Buriti onde a história do trator teve pontapé inicial. O que antes era uma brincadeira, virou meta séria para Samuel, neste último 1 ano e meio pandêmico.
"Resolvi tentar alguma coisa. Vi na internet um trator do tipo, ao estilo de um Valmet 88, icônico, e fui inventar o meu próprio", diz.
Além de operador de colheitadeira, Samuel também é "chegadinho" no motocross. Com um motor 200 cilindradas parado em casa, sobressalente, ele cogitou desmontar a moto que tinha, comprar uma outra mais "moderna", e ficar com sua "obra-prima" na garagem. Antes, era para ser um kartcross, espécie de veículo híbrido quatro rodas próprio para se aventurar em terrenos irregulares e curvas acentuadas.
"Mas eu desisti daquilo. Ia sair muito caro, desde a suspensão, compra de rodas, etc. Até fabriquei a gaiola do veículo, fiz uma lateral bonitinha e tudo, mas desisti mesmo. Foi aí que pensei na opção deu um trator", explica.
E adiciona: "o do vídeo que eu vi era um trator 'só estilo', isto é, para ter na garagem e brincar quando quisesse. Mas eu queria fazer um trator bem mais forte". E fez.
Tudo foi realmente do zero. "Fui ao ferro-velho de Aquidauana, comprei o diferencial (tração traseira) de um Chevette, câmbio em Campo Grande, além dos pneus traseiros do tipo rastro tratorado aro 16", detalha.
Já na internet, encomendou um banco clássico de trator, da marca Massey Ferguson. Outras peças foram achadas no caminho. E assim foi montando, adaptando, testando. Funcionando.
"Do chassi ao motor, da carenagem (tampa do motor) a cabine e todos os controles, fiz tudo sozinho desmontando a moto para criar o trator".
Inclusive, fora o próprio chassi, seu trator SMM-200 é completamente desmontável. "Como quase nada é soldado, posso só desaparafusar para consertar ou melhorar algo".
Ato de persistência – A atividade demorou pelo menos 547 dias para ser finalizada porque Samuel só trabalhava – informalmente – quando vinha à Dois Irmãos. Como operador de máquina industrial que é, fica muito tempo na região de Ribas do Rio Pardo à trabalho, vizinho conhecido pela comercialização de eucalipto.
"Só vez ou outra que eu mexia no trator, quando vinha de folga para Dois Irmãos", acrescenta.
Mas porque ter o trabalho de fazer tudo isso? Diga lá, Samuel:
"Queria só testar meu conhecimento. Vejo um negócio e já que quero tentar eu mesmo. Sou persistente. Vou atrás e fico até o final. Muitos dos meus amigos tem sítio, chácara, então caso eles precisem de uma ajuda, agora eu tenho a minha própria máquina. É o meu vermelinho", brinca.
Samuel conta que desde que era jovem sempre foi muito curioso. "Tinha – e ainda tenho – a facilidade para aprender, só de ver eu já sei fazer. Desde criança era apaixonado por torno mecânico, aquela máquina que fabrica tudo que é peça mecânica. Já adulto, fiz até um torno pra mim".
Para ele, oportunidade em vida de unir paciência à persistência. "Nem sempre dava certo. Nem sempre funcionava. E eu era obrigado a começar do zero. E assim foi indo. Eis o resultado. Tô feliz da conta", se orgulha.
A pergunta que fica: será que Samuel pretende vender seu "vermelhinho" e faturar uma grana?
"Se eu achar um preço bom eu até vendo.
Mas daí faço outro de novo!"
