04/07/2024 às 17h55min - Atualizada em 04/07/2024 às 17h55min

​NOTA DO CONSELHO DO POVO TERENA SOBRE OS INCÊNDIOS QUE OCORREM NO PANTANAL E EM OUTROS LUGARES DA BACIA HIDROGRÁFIA DO ALTO CURSO DO RIO PARAGUAI

​NOTA DO CONSELHO DO POVO TERENA SOBRE OS INCÊNDIOS QUE OCORREM NO PANTANAL E EM OUTROS LUGARES DA BACIA HIDROGRÁFIA DO ALTO CURSO DO RIO PARAGUAI

 Nós, do Conselho do Povo Terena, instância máxima de consulta e deliberação tradicional que congrega caciques e outras legítimas lideranças de nossas comunidades ou aldeias, vimos a público prestar esclarecimentos e exigir providências emergenciais sobre os incêndios que ocorrem em vastas extensões do Pantanal, assim como em áreas adjacentes localizadas na bacia hidrográfica do alto curso do rio Paraguai.

Em primeiro lugar, reafirmamos que o povo Terena é um povo originário do Pantanal, bioma chamado pelos antigos anciões de “Chaco” ou Exiva, referindo-se ao território ancestral localizado no município sul-mato-grossense de Corumbá. Até fins da chamada Guerra do Paraguai (1864-1870), muitas de nossas comunidades estavam estabelecidas nas proximidades dos grande cursos d’água do Pantanal: rios Aquidauana, Miranda, Paraguai e outros. Não é por acaso que certas localizadas da região recebem o nome Chané, que no idioma materno significa gente, povo, ser humano.

Posteriormente, devido aos processo de violência que sofremos por parte dos purutuye (brancos ou não indígenas), muitas comunidades foram se estabelecer em outras localidades, geralmente sem acesso aos grandes rios. Em segundo lugar, esclarecemos que os incêndios que desde 2020 destroem milhares de hectares no Pantanal têm sua origem em propriedades privadas, muitas das quais localizadas em áreas tradicionalmente ocupadas, de onde comunidades foram expulsas. Em terceiro lugar, denunciamos que inexiste no Brasil um Plano de Gestão Territorial e Combate a Incêndios em Comunidades Indígenas no Pantanal, com o devido treinamento dos indígenas para atuar como brigadistas, tampouco a imprescindível distribuição de equipamentos pessoais e outros para o combate a incêndios.

Um plano desta natureza deve incluir todas as comunidades indígenas estabelecidas no bioma e em áreas adjacentes da bacia do alto curso do rio Paraguai. Ocorre que grande parte das águas que inundam a planície pantaneira descem de áreas serranas, como as de Bodoquena e Maracaju, onde cursos d’águas e matas precisam ser devidamente protegidos. Além disso, como é de amplo conhecimento, os povos originários são os maiores defensores do meio ambiente e os principais protetores e cultivadores de florestas. Em quarto lugar, manifestamos descontentamento com a inoperância do Ministério dos Povos Indígenas, que até agora não veio ao socorro de todos os povos e comunidades indígenas estabelecidos no Pantanal e adjacências, os quais estão apreensivos com a possibilidade da tragédia ocorrida em 2020 se repetir em 2024.

Em quinto lugar, vimos a público somar com a posição do Conselho de Lideranças do Povo Guató, que se posicionou em nota sobre o assunto no último dia 1º de julho, e denunciar as inverdades que costumeiramente são ditas a nosso respeito, quais sejam, as de que os incêndios que assolam a região teriam origem nas comunidades indígenas e tradicionais.

Por isso, exigimos das autoridades que esses incêndios sejam rigorosamente investigados e que os criminosos que destroem o Pantanal paguem pelo que têm feito de ruim ao meio ambiente. Mato Grosso do Sul, 04 de Julho de 2024. Coordenação do Conselho do Povo Terena
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