30/06/2023 às 09h17min - Atualizada em 30/06/2023 às 09h17min

Agronegócio e mineração criam concentrações urbanas no interior

Estados da região Centro-Oeste tiveram crescimento populacional acima da média nacional ao longo da última década

FOLHAPRESS

A expansão do agronegócio, em valor e espaço, pode ser a principal responsável pelo crescimento da população do Centro-Oeste acima da média nacional no Censo Demográfico 2022.

A lógica vale para outras atividades, como a mineração, que induzem o crescimento de algumas concentrações urbanas no interior do Brasil.

Este tipo de mudança não é novo, mas o fato de nove das 27 capitais terem registrado quedas na população pode indicar uma tendência de interiorização em algumas regiões do país. A população de Salvador, por exemplo, caiu 9,6% de 2010 a 2022.

Uma resposta definitiva, porém, ainda depende de novos estudos, além de uma análise completa dos dados do Censo -apenas uma parte da pesquisa foi divulgada na quarta (28).

Mais do que a busca por qualidade de vida ou questões culturais, oportunidades de trabalho é o grande vetor de mudança da população, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. 

Com grandes empreendimentos vem o crescimento vertiginoso de cidades como Canaã dos Carajás, no Pará, cuja população quase triplicou entre 2010 e 2022.

A cidade tinha 26,7 mil habitantes em 2010. A partir da instalação, em 2016, do projeto de mineração de ferro S11D, da Vale, viu a população chegar a 77 mil habitantes no ano passado e registrar o maior PIB (Produto Interno Bruto) per capita do Brasil em 2020. A cidade está próxima de Marabá (260 km separam as duas), um polo regional no sul paraense.

No Centro-Oeste, a principal fronteira está em Mato Grosso, perto dos limites com a Amazônia, área de expansão da produção agropecuária.

"É muito mais lá do que em Mato Grosso do Sul, que já tem terras incorporadas. Aqui, o que mudou nos últimos 20 anos foi a expansão ao leste, na qual o gado foi substituído por eucalipto e oleaginosas como soja e milho", afirma Daniel Miranda, professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

"É um bolsão, são cidades como Três Lagoas, Água Clara, ali houve um incremento muito significativo de população, principalmente pessoas de Campo Grande (MS) que viajam pela região" diz o pesquisador. "E um crescimento tradicionalmente não necessariamente acompanhado por infraestrutura."

Segundo o pesquisador, o Centro-Oeste não é caracterizado, à exceção de Goiânia, por grandes centros urbanos. "Em grande medida, a qualidade de vida não acompanhou esse crescimento. O interior do MS, por exemplo, é precário, então acho difícil enxergar essa busca como motivo para migração."

Outra região em crescimento é Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que é considerada uma das principais fronteiras de expansão agropecuária do país. O município de Luiz Eduardo Magalhães, considerado a capital extraoficial, cresceu 79,5% entre 2010 e 2022, chegando a 107 mil habitantes.

Além da criação de concentrações urbanas no interior por atividade produtiva, também há outros motivos que impulsionaram o crescimento de algumas cidades, ainda que em ritmos menores.

Segundo Raquel Dutra, demógrafa e professora da Universidade Federal do Paraná, algumas cidades que apresentaram crescimento de 3%, como Pontal do Paraná, no Sul, podem estar ligadas também a qualidade de vida, mais do que a atividades econômicas.

"É uma cidade com perfil turístico. Provavelmente devido ao preço dos imóveis [não tão elevados] e a migração de pessoas aposentadas para viverem no litoral."

Para José Marcos da Cunha, pesquisador no Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp, empreendimentos econômicos que provocam uma atração rápida de população caracterizam uma migração interna, mas ele critica a leitura de uma interiorização generalizada no país a partir dos dados do Censo.

"Ainda é muito relativo. Tem municípios como São Paulo crescendo pouco, e outros perdendo população. Mas vemos aqui [em SP] uma aglomeração que alguns pesquisadores chamam de macrometrópole, num raio de 150 km, com São Paulo, Campinas, ligadas de uma forma que não existia há 20 anos."
Para ele, é preciso fazer análises detalhadas, porque as regiões em torno das grandes capitais têm indicado outras formas de crescimento.
Há um potencial de redistribuição da população que precisa buscar um lugar para viver", diz Cunha. Para ele, esse movimento, diferente da migração em busca de trabalho, é associado ao mercado imobiliário --quem procura ofertas melhores para viver e continuar trabalhando em grandes concentrações urbanas.

No caso de São Paulo, além de quem procura moradia a um preço que pode pagar, há um movimento de ocupação de áreas tradicionalmente periféricas para construir

A preocupação de José Marcos é que direcionar esforços para o que seria uma desmetropolização do país poderia tirar o foco de problemas enfrentados por metrópoles, como a falta de moradia perto do trabalho e acesso a saneamento e saúde.

 


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